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Título: Análise Comparativa do Racismo Estrutural em Muniz Sodré, Silvio Almeida e Herts Dias à Luz da Metáfora de Mil Onilètó

Resumo: Este artigo analisa o debate sobre a natureza do racismo — se é ou não estrutural — a partir das perspectivas de Muniz Sodré, Silvio Almeida e Herts Dias. A discussão é enriquecida pela proposta de Mil Onilètó, que compara o racismo ao ciclo da água, enfatizando sua fluidez nas estruturas sociais e institucionais. Esta análise busca estabelecer correspondências e divergências entre esses autores, contextualizando suas contribuições no cenário contemporâneo das relações raciais.

  1. Introdução

O racismo persiste como um dos maiores desafios sociais do Brasil, exigindo uma análise crítica e multifacetada. Enquanto alguns estudiosos, como Muniz Sodré, Silvio Almeida e Herts Dias, exploram as dimensões estruturais do racismo, Mil Onilètó apresenta uma perspectiva inovadora ao compará-lo ao ciclo da água. Esta metáfora líquida reflete as constantes mutações que o racismo sofre na modernidade e suas manifestações nas instituições e nas relações sociais.

  1. A Visão de Muniz Sodré

Muniz Sodré argumenta que o racismo é um fenômeno estruturante, enraizado nas instituições e na cultura da sociedade brasileira. Ele enfatiza que as narrativas midiáticas e a comunicação desempenham um papel central na perpetuação das desigualdades raciais. Sodré vê o racismo não apenas como uma questão de atitudes individuais, mas como uma configuração social que atravessa as instituições e molda as interações sociais. Neste sentido, a resistência ao racismo deve envolver não apenas a desconstrução de imagens e discursos, mas também a reestruturação das instituições que o sustentam.

  1. A Perspectiva de Silvio Almeida

Silvio Almeida, por sua vez, reforça a ideia de um racismo estrutural, destacando as interseções entre raça, classe e opressão. Almeida argumenta que o racismo não é apenas uma questão de discriminação individual, mas sim uma dinâmica que está profundamente entranhada nas estruturas sociais e econômicas. Ele propõe uma análise crítica das políticas públicas e das práticas institucionais que perpetuam desigualdades. Além disso, Almeida enfatiza a necessidade de um combate ao racismo que reconheça sua complexidade e suas múltiplas manifestações, sugerindo que a transformação social deve ser uma resposta sistemática e coletiva.

  1. A Contribuição de Herts Dias

Herts Dias complementa essa discussão ao focalizar as interações cotidianas que dão vida ao racismo estrutural. Ele explora como as práticas diárias, muitas vezes invisíveis, reforçam as hierarquias raciais. Dias observa que, mesmo em contextos de aparente igualdade, as relações raciais são moldadas por uma história de opressão que se manifesta nas microinterações. Essa abordagem revela a profundidade do racismo como um fenômeno que se insere em diferentes camadas da vida social e, portanto, deve ser combatido em múltiplas frentes.

  1. A Metáfora do Ciclo da Água de Mil Onilètó

Mil Onilètó propõe que o racismo se assemelha ao ciclo da água, onde a forma que assume depende do ambiente e das condições sociais. Assim como a água pode ser vapor, líquido ou gelo, o racismo também se transforma e assume diferentes formas dependendo do contexto. Essa fluidez está alinhada com a ideia da modernidade líquida, onde as estruturas sociais são móveis e adaptativas. A metáfora de Onilètó destaca que, embora o racismo tenha raízes profundas, sua expressão e manifestação podem variar, exigindo uma abordagem flexível e contextualizada para combatê-lo.

  1. Convergências e Divergências entre os Autores

A análise conjunta dos quatro autores revela uma estruturação do racismo que é tanto líquida quanto sólida. Enquanto Sodré e Almeida enfatizam a permanência da estrutura racista nas instituições, Herts Dias e Mil Onilètó nos lembram da necessidade de entender a fluididade desse fenômeno nas relações sociais. Todos concordam que a crise da modernidade também afeta a expressão do racismo, mas diferem quanto à ênfase: enquanto alguns se concentram na estrutura, outros ressaltam a dinâmica das relações sociais.

  1. Implicações para o Combate ao Racismo

A integração dessas perspectivas sugere que um entendimento abrangente do racismo deve reconhecer tanto suas características estruturais quanto a sua fluidez. Um combate efetivo ao racismo deve, portanto, envolver mudanças nas instituições e um reconhecimento das microdinâmicas sociais que sustentam o preconceito racial. Abordagens interdisciplinares, que considerem as narrativas midiáticas, as

Dieta Eucalina

Introdução ao pensamento de Doutor Sebi

A alimentação é um dos elementos mais fundamentais na manutenção da identidade cultural e na autonomia dos povos, especialmente para os povos negros, cujas práticas alimentares foram historicamente impactadas pela colonização. Ao longo dos séculos, a imposição de novos hábitos alimentares serviu como um mecanismo sutil de controle e alienação cultural. Desde a escravização, o sistema colonial usou a alimentação como uma ferramenta de opressão, restringindo o acesso a ingredientes nativos e forçando práticas alimentares que desmantelavam a conexão ancestral com os alimentos e seus significados simbólicos e espirituais.

Na diáspora africana, especialmente nas Américas, o controle da alimentação foi parte de um processo de "domesticação" das populações africanas, como observa a pesquisadora Patricia de Santana Pinho. A imposição de dietas novas e desconhecidas visava enfraquecer a cultura e a saúde dos povos escravizados, substituindo ingredientes ricos e nutritivos por alimentos de baixa qualidade. Contudo, mesmo em condições adversas, os africanos e seus descendentes conseguiram ressignificar e adaptar os alimentos disponíveis, criando uma culinária de resistência. Pratos como o acarajé, que remontam à tradição iorubá, representam a força da agência cultural dos povos negros, permitindo-lhes preservar e adaptar suas raízes culturais.

Repensar a agência dos povos negros na alimentação é um passo essencial na reconstrução da identidade cultural e no fortalecimento da autonomia. A alimentação é um ato político e pode ser usada como ferramenta de resistência e reconstrução. Práticas como o cultivo de alimentos ancestrais, a revalorização de ingredientes afro-indígenas e a promoção de uma alimentação que respeite as necessidades e saberes tradicionais são caminhos de fortalecimento. A reconexão com ingredientes e modos de preparo tradicionais é uma forma de se reapropriar do que a colonização tentou apagar.

Essa reconstrução é fundamental para a saúde e identidade coletiva dos povos negros. Como bem argumentam estudiosos da afrocentricidade, como Molefi Kete Asante, a restauração da cultura alimentar original fortalece os indivíduos e comunidades, criando um espaço de valorização e resgate de saberes que sustentam não só o corpo, mas também a mente e o espírito. Ao escolhermos e cultivarmos alimentos que refletem nossa história e valores, criamos uma ruptura com a herança colonial e reafirmamos nossa soberania alimentar.

Essa mudança traz um impacto profundo: ao nos alimentarmos de forma consciente e alinhada à nossa ancestralidade, não só combatemos os impactos negativos da dieta imposta pela colonização, como também pavimentamos um caminho para a saúde integral e a independência cultural. Essa escolha é, antes de tudo, um ato de resiliência, uma reafirmação da agência dos povos negros sobre sua cultura e seu destino.

A Retomada Alimentar: Dr. Sebi e o Caminho para a Reconexão Afro-Cultural

A alimentação é uma das conexões mais profundas entre o corpo, a cultura e a história de um povo. Na experiência afro-diaspórica, o acesso à alimentação foi frequentemente moldado pela colonização e escravização, práticas que tentaram impor dietas alienantes e desestruturar nossa relação ancestral com a comida. Hoje, rediscutir a alimentação como forma de controle e, ao mesmo tempo, de resistência é um passo essencial para a reconstrução da autonomia e saúde do povo negro.

Nesse caminho de retomada, o trabalho do herborista e nutricionista Dr. Sebi surge como uma inspiração e um convite à reconexão com as práticas alimentares africanas ancestrais. Sebi popularizou uma abordagem de saúde baseada em alimentos alcalinos, com uma dieta que, segundo ele, cura o corpo de dentro para fora ao mantê-lo em um estado alcalino, menos propenso a doenças. Mas o que torna essa filosofia tão importante para a reconstrução cultural e o fortalecimento dos povos negros?

A Filosofia Alimentar de Dr. Sebi e o Retorno às Raízes

Para Dr. Sebi, os alimentos têm um papel que vai além do simples ato de nutrição: eles influenciam nosso equilíbrio físico, mental e espiritual. Em suas teorias, a dieta alcalina surge como uma resposta para um corpo mais forte e em sintonia com sua verdadeira essência, livre dos efeitos negativos de uma dieta altamente processada e acidificante, herança colonial que se distanciou da alimentação dos povos africanos.

Ao defender alimentos alcalinos, Sebi criou uma lista com ingredientes naturais que ajudam a manter o pH do corpo num estado ideal, favorecendo a saúde celular e prevenindo diversas doenças. Entre os alimentos recomendados estão folhas verdes, frutas específicas (como figos e berries), grãos como a quinoa, e óleos saudáveis. A ideia é eliminar toxinas e permitir que o corpo funcione como um “templo” equilibrado, um conceito que ecoa fortemente na tradição africana onde o alimento está entrelaçado com práticas espirituais e cerimoniais.

Alimentação como Ativismo e Resistência

A proposta de Sebi não é apenas uma dieta, mas um ato de resistência. Ao escolhermos alimentos que fortalecem nossa ancestralidade, estamos afirmando nossa independência em relação às imposições históricas que visavam enfraquecer nossa cultura. Esse resgate da alimentação é, também, uma reconexão com nossos antepassados, que valorizavam alimentos naturais e respeitavam o ciclo da natureza. Hoje, adotar uma dieta alcalina baseada nos ensinamentos de Dr. Sebi representa uma rejeição ativa à “dieta colonial” e uma reafirmação do direito à nossa própria saúde e identidade.

Construindo Autonomia e Consciência Alimentar

Ao reapropriarmos nossas práticas alimentares, reafirmamos nossa capacidade de escolha e de autocuidado. O ato de se alimentar de forma consciente e alinhada com nossas raízes é um passo para fortalecer nossa comunidade e promover uma saúde integral. Esse retorno à alimentação como um ato de empoderamento é uma forma de resistência silenciosa, mas poderosa, que reforça a agência dos povos negros sobre seu corpo, sua história e sua liberdade.

O Legado de Dr. Sebi para a Geração Atual

A filosofia de Dr. Sebi inspira a nova geração a ver a alimentação como um ato político e espiritual, algo que transcende o físico e nos conecta à nossa ancestralidade. Alimentar-se bem não é apenas uma necessidade, mas um compromisso com nossa própria reconstrução cultural. Ao incorporarmos essa visão de saúde integral e natural, criamos um caminho para nos fortalecermos como indivíduos e como coletivo, honrando nossa história e assumindo o controle sobre nosso futuro.

Essa jornada de transformação alimentar é um ato de cura – cura do corpo, da alma e da memória cultural que carregamos. A dieta alcalina de Dr. Sebi não é apenas uma receita para uma vida saudável, mas um convite para, juntos, relembrarmos quem somos e continuarmos a resistência que nossos ancestrais começaram.

A transição para a dieta alcalina, inspirada pelo Dr. Sebi, é um processo gradual e pode ser uma excelente maneira de melhorar a saúde com equilíbrio. A filosofia por trás da dieta alcalina é que alimentos alcalinos ajudam a manter o pH do corpo em um nível mais equilibrado, potencialmente criando um ambiente menos favorável para inflamações e doenças.

Começando a Transição Gradualmente

  1. Alimentos Prioritários: Comece incorporando alimentos que são a base da dieta alcalina de Dr. Sebi, como vegetais de folhas verdes, frutas com baixo teor de açúcar (como as berries), e gorduras saudáveis, especialmente o óleo de coco e azeite. Entre as proteínas, grão-de-bico e quinoa são boas opções.

  2. Redução de Alimentos Ácidos: Dr. Sebi recomendava evitar carnes processadas, produtos lácteos, e alimentos altamente processados. Considere reduzir esses alimentos aos poucos, substituindo-os por versões mais naturais e frescas. Lembre-se de que é um processo; a ideia é não pressionar o corpo a mudanças radicais de imediato.

  3. Água Alcalina e Ervas: O Dr. Sebi defendia o uso de água alcalina e de ervas específicas para ajudar o corpo a se manter equilibrado. Beber água filtrada e natural é um bom começo. Algumas ervas que ele recomendava incluem bardana, chaparral, e salsaparrilha, conhecidas por suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.

  4. Grãos e Farinhas: Dr. Sebi sugeria a eliminação de grãos convencionais, incentivando o consumo de alimentos como quinoa, amaranto, e fonio. Reduza gradualmente o consumo de grãos refinados, trocando-os por opções mais alcalinas.

  5. Evitar Açúcares Refinados e Cafeína: Diminuir a cafeína e os açúcares refinados é um passo importante. Tente substituí-los por frutas frescas e chás de ervas, que trazem mais nutrientes sem os efeitos estimulantes do açúcar e da cafeína.

  6. Aprender Novas Receitas: Adotar receitas inspiradas na dieta alcalina de Dr. Sebi pode ajudar muito na transição. Smoothies verdes, saladas com ingredientes frescos, e sopas alcalinas podem ser opções satisfatórias e nutritivas.

Considerações e Conselhos Finais

Lembre-se de consultar um nutricionista, especialmente se tiver condições de saúde preexistentes. A dieta do Dr. Sebi não é uma fórmula universal, então o acompanhamento profissional ajuda a personalizar a transição de acordo com o que seu corpo precisa. Além disso, a transição gradual ajuda o corpo a adaptar-se naturalmente a essa nova forma de nutrição, aumentando as chances de um sucesso a longo prazo.

Apropriação Tecnológica, Inteligência Artificial e Resistência Quilombola no Contexto Digital: Desafios e Alternativas para Comunidades Negras na Era Pós-Pandêmica

Apropriação Tecnológica, Inteligência Artificial e Resistência Quilombola no Contexto Digital: Desafios e Alternativas para Comunidades Negras na Era Pós-Pandêmica

Autor: Amin X

Introdução

O presente artigo começou a ser escrito em um dos momentos mais críticos da história contemporânea: a pandemia de COVID-19, que não apenas redefiniu a dinâmica social e econômica do mundo, mas também revelou com maior intensidade as desigualdades tecnológicas já presentes em nossa sociedade. Durante esse período, bilhões de pessoas foram forçadas a migrar para uma vida mediada por tecnologias digitais, desde o trabalho e a educação até as formas mais básicas de comunicação e socialização. No entanto, o que parecia ser uma solução para as restrições impostas pela crise sanitária logo se mostrou um terreno fértil para a expansão de um novo tipo de colonialismo: o colonialismo digital, onde as grandes corporações de tecnologia consolidam seu controle sobre as infraestruturas de comunicação e os dados pessoais de bilhões de usuários.

Esse novo tipo de dominação digital reflete e amplia um processo histórico que as comunidades negras e quilombolas conhecem bem: a exploração de territórios e corpos, desta vez no espaço virtual. A dependência forçada de plataformas controladas por gigantes como Google, Facebook, Amazon e Microsoft (o chamado GAFAM) reproduz as dinâmicas de opressão que, por séculos, impuseram-se aos povos negros e indígenas no contexto colonial. Sob esse novo regime, os dados — nossa nova “riqueza” — são expropriados e usados para manter o status quo de poder e privilégio, à medida que nossas conversas, gostos e necessidades são monitorados, catalogados e vendidos em troca de controle e lucro.

Por outro lado, o cenário pós-pandêmico trouxe à tona a emergência de novas tecnologias, como as inteligências artificiais (IAs), que passaram a ocupar um papel central nas discussões sobre o futuro da sociedade global. Embora as IAs prometam maior eficiência e inovações em diversas áreas, elas também suscitam graves preocupações éticas. Quem controla esses algoritmos? Como eles estão sendo treinados e a serviço de quem? Sabemos que algoritmos, quando alimentados com dados enviesados, podem perpetuar preconceitos raciais, sociais e de gênero. Assim, o avanço das IAs, sem uma crítica profunda sobre suas implicações, pode reforçar as desigualdades que comunidades marginalizadas, como as populações negras, enfrentam há séculos.

É nesse contexto que este artigo se insere, buscando ampliar o debate sobre o colonialismo digital para incluir também a interação entre racismo digital e o avanço das IAs. A luta por soberania digital, tão essencial quanto a luta histórica pela terra, exige que as comunidades negras se apropriem das ferramentas tecnológicas, desenvolvam seus próprios sistemas e protejam suas informações e culturas de forma autônoma. O software livre e a IA aberta surgem como alternativas estratégicas nessa batalha, pois oferecem liberdade, controle e a possibilidade de construir redes e soluções colaborativas que preservam e protegem os direitos e os dados de nossas comunidades.

Assim como os quilombos históricos se organizaram para resistir ao colonialismo territorial, hoje é imperativo que as comunidades negras e quilombolas construam seus próprios "quilombos digitais", espaços de resistência e criação autônoma. Ao longo deste artigo, exploraremos como a apropriação do software livre, aliada a uma crítica ao desenvolvimento de IAs, pode servir como uma ferramenta de luta contra o colonialismo digital e como uma forma de preservar a soberania das comunidades frente ao crescente domínio das corporações tecnológicas. Esta é uma batalha por território, mas, desta vez, um território virtual, e, assim como no passado, a liberdade não será concedida; ela precisa ser conquistada e protegida.

A Pandemia de COVID-19 e o Crescimento do Colonialismo Digital

Durante a pandemia de COVID-19, as tecnologias digitais emergiram como ferramentas fundamentais para a manutenção das atividades sociais, econômicas e educacionais. O distanciamento físico e as restrições de mobilidade forçaram governos, empresas e instituições de ensino a adotarem soluções digitais para garantir a continuidade das operações. Contudo, essa dependência acelerada das plataformas digitais consolidou o poder de corporações que já controlavam grande parte da infraestrutura tecnológica global, criando o que pode ser chamado de um latifúndio virtual. Empresas como Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft — coletivamente conhecidas como GAFAM — não apenas se beneficiaram do aumento no uso dessas plataformas, mas também fortaleceram seus monopólios sobre os dados e as interações pessoais, dominando o acesso ao ciberespaço de forma semelhante ao controle de terras em períodos coloniais.

Essa concentração de poder nas mãos de poucas empresas trouxe à tona o conceito de colonialismo digital, onde o domínio territorial do passado é substituído pela exploração de dados e pela monopolização das plataformas digitais. O uso de redes sociais e outros serviços online se tornou, em grande medida, inevitável, criando uma relação de dependência entre os usuários e as corporações que detêm essas infraestruturas. De acordo com estudos recentes, durante a pandemia, o uso de plataformas como Facebook e Instagram cresceu mais de 40%, enquanto serviços de videoconferência, como Zoom e Microsoft Teams, tiveram aumentos exponenciais de usuários .

Antes mesmo da pandemia, as chamadas guerras dos navegadores já haviam marcado a disputa entre grandes corporações pelo controle do acesso à internet. O que começou com a competição entre o Internet Explorer da Microsoft e o Netscape Navigator, evoluiu para uma batalha mais complexa entre Google Chrome, Mozilla Firefox, Apple Safari e Microsoft Edge. Essa disputa, que parecia se concentrar apenas no domínio dos navegadores de internet, revelou-se um ponto crucial na luta pelo controle do comportamento dos usuários na web. O Chrome, de propriedade do Google, domina cerca de 65% do mercado global de navegadores, enquanto Safari, Firefox e Edge disputam fatias menores desse ecossistema .

Esse controle do acesso à internet é um exemplo claro de como as grandes corporações influenciam o comportamento dos usuários. Ao controlar os navegadores, essas empresas têm acesso a dados de navegação, histórico de sites visitados, preferências de consumo e, consequentemente, moldam a experiência digital de bilhões de pessoas. Por meio do uso de algoritmos, essas empresas conseguem personalizar anúncios, promover determinados conteúdos e monitorar o comportamento dos usuários de forma cada vez mais precisa e invasiva. O colonialismo digital, portanto, se estende para além das plataformas sociais e permeia todas as facetas da experiência online.

A Inteligência Artificial e a Reforço do Racismo Algorítmico

Com a pandemia, o uso da inteligência artificial (IA) passou a ocupar um espaço central em nossa vida cotidiana, especialmente nas plataformas digitais. Algoritmos complexos, alimentados por dados coletados em massa, são usados para direcionar o comportamento dos usuários em redes sociais como Facebook, Instagram e TikTok. Essas plataformas, ao utilizar IAs, monitoram não apenas os padrões de consumo e as interações sociais, mas também as preferências políticas, ideológicas e culturais dos usuários, promovendo o que é conhecido como bolhas de filtro, onde indivíduos são expostos apenas a conteúdos que reforçam suas crenças, polarizando ainda mais o debate público.

No entanto, o impacto mais alarmante dessas tecnologias é o reforço das desigualdades raciais e sociais. A inteligência artificial, longe de ser uma ferramenta neutra, reflete os vieses de quem a programou. Um exemplo é a constatação de que algoritmos usados para decisões judiciais nos Estados Unidos tendem a ser mais severos com pessoas negras, perpetuando estereótipos raciais. Segundo um estudo da ProPublica, os sistemas de IA usados para prever reincidência criminal erram duas vezes mais para réus negros em comparação com brancos . Esse fenômeno, que se estende para áreas como saúde, emprego e educação, é um reflexo do que o filósofo Achille Mbembe denomina necropolítica: a política de decidir quem vive e quem morre, ou, no contexto digital, quem tem acesso a oportunidades e quem permanece marginalizado e excluído.

Estudos recentes indicam que pessoas negras e de comunidades periféricas têm menos acesso a dispositivos digitais e uma conectividade de qualidade inferior em comparação a outras parcelas da população. Dados da Pew Research Center mostram que cerca de 25% dos adultos negros nos Estados Unidos dependem exclusivamente de smartphones para acessar a internet, em contraste com 12% dos adultos brancos . Essa dependência de dispositivos móveis agrava as desigualdades, pois limita o acesso a serviços digitais mais avançados e ao pleno uso da internet, como trabalho remoto e ensino online, consolidando a exclusão digital.

O Racismo nas Plataformas Digitais e as Doenças Causadas pelo Uso Indiscriminado

O racismo digital, exacerbado pelo uso de algoritmos, também se manifesta nas redes sociais de forma direta. As plataformas do GAFAM, ao permitirem o livre compartilhamento de conteúdo, tornaram-se ambientes propícios para a disseminação de discursos de ódio racial, teorias conspiratórias e fake news que afetam desproporcionalmente as comunidades negras. Um exemplo claro é a forma como grupos supremacistas brancos usam o Facebook e o Twitter para difundir suas ideologias, aproveitando-se da falta de moderação eficaz e do modelo de negócios dessas plataformas, que lucram com o engajamento, independentemente do conteúdo disseminado.

Além disso, o uso desenfreado de redes sociais e ferramentas digitais durante a pandemia trouxe um aumento significativo de problemas de saúde mental. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para o crescimento de doenças como ansiedade, depressão e estresse decorrentes da hiperconectividade e da exposição constante a redes sociais. O uso contínuo de plataformas como Facebook, Instagram e TikTok, que manipulam o comportamento dos usuários por meio de mecanismos de recompensas psicológicas, tem sido associado ao aumento da síndrome de burnout digital, caracterizada pela exaustão mental e física causada pelo uso excessivo de dispositivos eletrônicos .

Por fim, as corporações do GAFAM não apenas mantêm o controle sobre o comportamento digital dos usuários, mas também criam uma dependência estrutural de suas plataformas, consolidando um sistema de vigilância e controle que perpetua a exploração digital. Nesse contexto, o colonialismo digital não é apenas uma metáfora, mas uma realidade que precisa ser combatida com a construção de alternativas, como o uso de software livre e a promoção de uma internet mais democrática e descentralizada.

Inteligência Artificial e Racismo Algorítmico

As IAs, desenvolvidas e controladas pelas mesmas corporações que dominam a tecnologia digital, não são apenas ferramentas neutras de automação ou inovação. Elas são construídas com base em dados que refletem as estruturas sociais e políticas existentes, muitas vezes reforçando o racismo e a discriminação. O conceito de "racismo algorítmico" emerge desse contexto, em que sistemas de IA replicam e perpetuam as desigualdades raciais presentes nos dados que alimentam suas operações.

Estudos demonstram que sistemas de reconhecimento facial falham desproporcionalmente ao identificar pessoas negras, resultando em erros e até em detenções injustas. Além disso, algoritmos usados para decisões de crédito ou avaliação de risco frequentemente desfavorecem populações negras e pobres, mostrando que as IAs, tal como as tecnologias anteriores, podem ser usadas como ferramentas de controle social e vigilância.

No entanto, a IA também pode ser vista como uma ferramenta potencial de resistência e empoderamento, desde que desenvolvida e controlada por comunidades que entendem suas necessidades e lutas. Nesse sentido, o uso de IAs de código aberto—que podem ser estudadas, modificadas e implementadas por qualquer pessoa—se alinha à filosofia do software livre e à luta por soberania digital.

O movimento de software livre, historicamente representado por sistemas operacionais como GNU/Linux e defendido por pioneiros como Richard Stallman, não é apenas uma alternativa técnica, mas uma resposta política e filosófica à concentração de poder tecnológico nas mãos de grandes corporações. A base desse movimento é a liberdade: liberdade para usar, estudar, modificar e redistribuir o software. Essa proposta de autonomia tecnológica pode ser aplicada ao desenvolvimento de inteligências artificiais (IAs) éticas e justas, distanciando-se dos modelos proprietários que mantêm os usuários reféns de políticas opacas e interesses comerciais. Para as comunidades negras, quilombolas e outras populações marginalizadas, o software livre e as IAs abertas representam a possibilidade de criar suas próprias soluções tecnológicas, de acordo com suas necessidades e valores.

Ao adotar essas ferramentas, é possível desenvolver plataformas seguras para a comunicação, o armazenamento de dados e o processamento de informações sensíveis, sem a interferência das grandes corporações que, como discutido anteriormente, controlam vastos territórios do espaço digital. Por exemplo, em vez de depender de plataformas de armazenamento de dados de empresas como Google ou Microsoft, comunidades poderiam desenvolver e gerenciar seus próprios servidores de armazenamento baseados em software livre, garantindo a privacidade, a soberania e o controle sobre seus próprios dados.

Inspirado no conceito de quilombismo de Abdias do Nascimento, que propõe os quilombos como espaços de liberdade e resistência ao sistema colonial, surge a proposta do quilombismo digital. Assim como os quilombos foram refúgios para africanos escravizados e seus descendentes, locais onde podiam construir modos de vida autônomos, o quilombismo digital visa criar espaços digitais autônomos, livres do controle das corporações e da lógica colonial que ainda se perpetua nas infraestruturas tecnológicas globais.

No quilombismo digital, a ideia central é construir uma internet onde as comunidades negras possam existir, interagir e se desenvolver de forma segura, garantindo o controle sobre as tecnologias que utilizam. Isso significa que ferramentas como o software livre e IAs abertas tornam-se estratégicas para alcançar a soberania tecnológica dessas populações. Ao dominar e adaptar essas tecnologias, é possível garantir que suas culturas, dados e modos de comunicação sejam preservados, livres da exploração comercial e da vigilância.

No cenário brasileiro, um exemplo prático dessa luta é o trabalho da Rede Mocambos, uma organização que conecta quilombos e comunidades tradicionais com o objetivo de garantir a soberania digital. Desde o início dos anos 2000, a Rede Mocambos utiliza tecnologias de software livre para desenvolver soluções comunitárias, como a instalação de telecentros em quilombos, oferecendo oficinas de apropriação tecnológica e capacitação para a criação de redes de comunicação autônomas.

Um dos projetos mais importantes da Rede Mocambos é o Baobáxia, uma rede descentralizada que permite a troca de informações entre quilombos, mesmo sem conexão contínua com a internet. O Baobáxia funciona como um sistema de armazenamento e troca de dados que se conecta esporadicamente à rede principal, permitindo que comunidades com acesso limitado à internet possam compartilhar informações, criar bancos de dados e garantir que seus conhecimentos sejam preservados. Essa abordagem se alinha perfeitamente ao conceito de quilombismo digital, pois propõe uma infraestrutura própria e resistente, onde as ferramentas tecnológicas são adaptadas às realidades das comunidades, em vez de impor a elas soluções padronizadas e excludentes.

Outro exemplo de resistência e de valorização da soberania tecnológica é o papel das rádios comunitárias na diáspora africana. No Brasil, as rádios comunitárias têm sido, historicamente, instrumentos poderosos de resistência, especialmente em comunidades periféricas e quilombolas, onde a oralidade e a comunicação direta são fundamentais para a preservação cultural. Através das rádios, essas comunidades conseguem descentralizar o acesso à informação e garantir que suas vozes sejam ouvidas, sem a intermediação de grandes veículos de comunicação, muitas vezes controlados por elites econômicas.

Essas rádios têm utilizado o software livre como base para suas operações, desenvolvendo plataformas que permitem o controle total sobre o conteúdo transmitido. Ferramentas como o LibreTime (anteriormente conhecido como Airtime) são utilizadas para automatizar e gerenciar a transmissão de rádios comunitárias, proporcionando uma solução de baixo custo e grande eficiência. O software livre, nesse contexto, oferece a flexibilidade necessária para que essas rádios se adaptem às necessidades específicas das comunidades, garantindo sua autonomia.

O Histórico de Luta Digital e a Militância de Mil Onilètó

Dentro desse contexto de resistência digital, a militância de Mil Onilètó se destaca como um exemplo vivo de apropriação tecnológica voltada para o fortalecimento das comunidades negras e quilombolas no Brasil. Ao longo de sua trajetória, Mil Onilètó tem atuado ativamente na construção de infraestruturas de comunicação comunitária através da instalação de telecentros, oficinas de apropriação tecnológica e criação de rádios comunitárias. Suas iniciativas se baseiam no uso de software livre e na implementação de soluções colaborativas que permitam às comunidades controlar suas próprias ferramentas de comunicação e garantir a preservação de seus conhecimentos.

Entre os projetos desenvolvidos por Mil Onilètó, destacam-se a construção de redes de comunicação colaborativa utilizando a plataforma Ushahidi, que permite o mapeamento e a visualização de dados de forma descentralizada. Além disso, ele tem contribuído para a criação de bancos de dados offline em comunidades com conectividade limitada, garantindo que essas populações tenham acesso às informações essenciais, mesmo em condições adversas.

Mil Onilètó também esteve à frente da criação de rádios comunitárias em quilombos e comunidades urbanas, fortalecendo a comunicação local e a difusão de conteúdos que valorizam a cultura e a oralidade. Essas rádios se tornaram ferramentas fundamentais para potencializar a comunicação entre os membros das comunidades, permitindo que as informações circulem de maneira eficaz e democrática, sem depender das estruturas corporativas.

Além disso, Mil Onilètó é um defensor da criação de redes conectadas eventualmente, como o Baobáxia da Rede Mocambos, que exemplifica a capacidade das comunidades de se auto-organizarem e construírem sistemas de comunicação autônomos e descentralizados. Esse modelo é uma resposta direta ao colonialismo digital e às tentativas das grandes corporações de controlar o ciberespaço.

Conclusão

A luta pela soberania digital é, em muitos aspectos, uma extensão das lutas históricas das populações negras e quilombolas por terra, autonomia e liberdade. O uso de software livre, inteligências artificiais abertas e a criação de redes autônomas, como o Baobáxia, são passos fundamentais para garantir que essas comunidades possam exercer controle sobre seus próprios territórios digitais. A militância de figuras como Mil Onilètó demonstra que a resistência digital não é apenas uma ideia, mas uma prática concreta, baseada no compartilhamento de conhecimentos, na construção de infraestrutura própria e na valorização da cultura e da comunicação comunitária.

O pós-pandemia nos trouxe desafios e oportunidades no campo da tecnologia. O avanço das IAs, ao mesmo tempo que intensifica o colonialismo digital, também abre novas possibilidades para a resistência e a autonomia. Ao adotar e desenvolver tecnologias livres, as comunidades negras podem se proteger contra o racismo digital e garantir que suas histórias, dados e interações estejam sob seu próprio controle.

A luta pela soberania digital, assim como a luta pela terra, exige organização, consciência e ação coletiva. Somente ao resistir ao controle das grandes corporações e adotar tecnologias livres e seguras, poderemos garantir que as ferramentas tecnológicas sejam usadas para libertar, e não para oprimir, nossas comunidades.

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Apropriação Tecnológica e Resistência Quilombola no Contexto Digital: Desafios e Alternativas para Comunidades Negras na Era da Informação

Autor: Amin X

Introdução

A era digital trouxe uma nova forma de colonização, invisível aos olhos, mas poderosa em sua capacidade de controlar a comunicação, os dados e o comportamento de bilhões de pessoas. As tecnologias digitais, que se apresentam como instrumentos de conexão global, escondem em seus sistemas uma profunda relação de exploração e vigilância. Para as comunidades negras, diaspóricas e continentais, a apropriação dessas tecnologias é urgente, principalmente no contexto da pandemia de saúde, em que a única presença possível ocorre por meio desses recursos. No entanto, o controle dessas ferramentas está nas mãos de grandes corporações que lucram massivamente com as interações que deveriam, muitas vezes, pertencer exclusivamente aos nossos espaços.

Neste artigo, discuto como as empresas conhecidas pelo acrônimo GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) reproduzem, no campo digital, as mesmas dinâmicas de dominação e controle que caracterizaram o colonialismo histórico. Argumento que a adoção de tecnologias proprietárias continua a alimentar as estruturas de poder da supremacia branca, ao passo que apresento o software livre como uma alternativa de resistência e reapropriação de territórios digitais.

A Colonização Digital e o Latifúndio Virtual

Historicamente, o racismo se adaptou às novas circunstâncias de dominação e controle. No contexto tecnológico, isso se manifesta pela concentração do poder digital nas mãos de poucas corporações, tornando a internet comparável a um latifúndio. Assim como nas terras físicas, o controle dessas terras digitais é exercido por uma elite empresarial, que detém o monopólio das plataformas mais utilizadas pela população mundial.

O sistema Windows, por exemplo, é o padrão nos computadores pessoais, empurrado aos usuários como única opção viável. Isso não é apenas uma imposição tecnológica, mas uma estratégia que garante o controle sobre o uso desses dispositivos. O Windows é, em si, inseguro, gerando a necessidade de antivírus que, por sua vez, são ineficazes contra as ameaças criadas pelo próprio sistema. Essas dinâmicas se repetem em plataformas de comunicação como Facebook, Instagram e WhatsApp, que armazenam, analisam e comercializam nossos dados com fins de lucro e vigilância.

O controle das tecnologias digitais por essas corporações reproduz o que Achille Mbembe chamou de "necropolítica", em que a tecnologia é usada para controlar não só o território, mas as formas de vida e sobrevivência das populações subalternas. O racismo digital, portanto, se expressa na forma como nossos dados são sequestrados e explorados sem que tenhamos a capacidade de nos proteger ou escapar desse ciclo vicioso.

O GAFAM e a Exploração de Dados

As cinco grandes corporações que compõem o GAFAM—Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft—detêm o controle da maioria das interações que ocorrem na internet. Essas empresas são as novas potências coloniais, exercendo seu poder de forma sutil, mas igualmente violenta. Um exemplo claro dessa dominação foi a Guerra dos Navegadores, quando as grandes empresas disputaram o controle da internet, moldando o que hoje conhecemos como o território digital.

Hoje, esse poder se reflete no controle das informações pessoais. Cada clique, cada pesquisa, cada compra é monitorada, catalogada e vendida, gerando perfis de consumo que são explorados por essas corporações. As consequências disso são visíveis nas estratégias de marketing digital, em que produtos aparecem automaticamente em nossas redes sociais após uma simples pesquisa no Google ou em um navegador. Essa prática não só fere o direito à privacidade, como também perpetua as estruturas de exploração ao transformar nossas necessidades e desejos em mercadorias.

Software Livre e a Resistência Tecnológica

No entanto, existe uma alternativa para essas dinâmicas de controle: o uso de tecnologias livres. O movimento de software livre, representado por sistemas como GNU/Linux, oferece um modelo de desenvolvimento tecnológico baseado na colaboração, na liberdade de uso e na transparência. A diferença entre o software proprietário, controlado por empresas como as do GAFAM, e o software livre está nos princípios filosóficos que orientam sua criação.

O software livre não só permite que qualquer pessoa use o programa sem pagar, como também dá ao usuário a liberdade de estudar, modificar e compartilhar o código. Isso gera um ambiente de segurança colaborativa, em que as vulnerabilidades são resolvidas rapidamente pela própria comunidade de usuários. Essa filosofia de autonomia tecnológica ressoa profundamente com as lutas históricas dos povos quilombolas e indígenas pela retomada de seus territórios.

Ao usar software livre, as comunidades negras e outras populações marginalizadas podem começar a reapropriar o espaço digital, protegendo suas informações e criando redes de comunicação mais seguras. Além disso, o software livre oferece a oportunidade de construir soluções tecnológicas que atendam às necessidades específicas dessas comunidades, rompendo com a dependência das grandes corporações.

Quilombismo Digital: Um Caminho para a Autonomia

Seguindo o exemplo dos quilombos, que resistiram ao colonialismo ao criar territórios autônomos, o movimento por uma internet livre e segura pode ser entendido como uma forma de quilombismo digital. Abdias do Nascimento descreveu o quilombismo como um modelo de resistência coletiva, em que o valor da liberdade é inegociável. No contexto digital, essa filosofia nos ensina a não aceitar passivamente as imposições tecnológicas das corporações, mas a lutar pela construção de um espaço digital em que nossas comunidades possam existir em liberdade.

Para alcançar essa liberdade, é necessário educar nossas comunidades sobre o uso consciente das tecnologias. Isso envolve não apenas o ensino de ferramentas e plataformas livres, mas também uma compreensão crítica das dinâmicas de exploração que estão em jogo. Devemos nos basear em modelos filosóficos que nos conectem com nossas raízes de resistência, tal como a quilombagem e o quilombismo, para criar um futuro digital que respeite nossos valores e promova a liberdade.

Conclusão

A apropriação tecnológica é, mais do que nunca, uma necessidade para as comunidades negras, tanto na diáspora quanto no continente africano. As grandes corporações que dominam o espaço digital lucram com a exploração de nossos dados e com o controle de nossas comunicações, perpetuando as estruturas de opressão que caracterizaram o colonialismo. No entanto, o software livre oferece uma alternativa viável, permitindo que retomemos o controle sobre nossas interações digitais e construamos um espaço de comunicação autônomo e seguro.

Seguindo o exemplo dos quilombos, devemos lutar pela construção de um território digital em que a liberdade seja central, e as tecnologias sejam utilizadas para fortalecer nossas comunidades, em vez de explorá-las. Somente assim poderemos enfrentar o poder das corporações e garantir que as tecnologias sejam usadas para o bem-estar coletivo, em vez de para o lucro individual.


Essa versão busca organizar suas ideias em uma estrutura mais formal, conectando-as a referências teóricas e abordagens filosóficas para transformar o texto em um artigo acadêmico com argumentação mais estruturada. Se quiser mais alguma revisão ou adição, me avise!

Afrocentricidade e a Reconstrução da Identidade Afrocentrada na Modernidade Líquida: Enfrentando o Racismo Líquido e o Genocídio Negro na Diáspora

Afrocentricidade e a Reconstrução da Identidade Afrocentrada na Modernidade Líquida: Enfrentando o Racismo Líquido e o Genocídio Negro na Diáspora

por: Mil Onilètó

Afrocentricidade e a Reconstrução da Identidade Afrocentrada na Modernidade Líquida: Enfrentando o Racismo Líquido e o Genocídio Negro na Diáspora

A afrocentricidade se estabelece como uma ferramenta crucial para a transformação do paradigma da identidade negra e o resgate do ser humano africano em meio à modernidade líquida, conceito desenvolvido por Zygmunt Bauman. No mundo contemporâneo, caracterizado por instabilidades e mudanças rápidas, as identidades se tornam fluidas, e o racismo se ajusta a essas condições, criando o que podemos denominar de racismo líquido. Esse fenômeno opera de forma silenciosa e invisível, perpetuando o genocídio negro por meio do apagamento histórico e da exclusão cultural. A afrocentricidade, portanto, se posiciona como um movimento essencial para combater essas novas formas de opressão, oferecendo um caminho para a reconstrução da identidade e da memória histórica das pessoas negras na diáspora.

Modernidade Líquida e Racismo Líquido: O Novo Genocídio Negro

De acordo com Zygmunt Bauman em seu livro Modernidade Líquida (2000), a modernidade atual se caracteriza pela fluidez e incerteza, onde as estruturas e identidades sociais estão em constante movimento e transformação. O racismo, no contexto dessa modernidade líquida, também evoluiu. O racismo líquido se manifesta de forma menos explícita, porém profundamente destrutiva, operando por meio da invisibilidade e da desvalorização das contribuições africanas ao mundo. Esse racismo adota formas sutis e simbólicas, como o apagamento da memória histórica e a imposição de narrativas eurocêntricas, criando o que podemos chamar de amnésia histórica.

Segundo o pensador afrocentrado Molefi Kete Asante, "quando as pessoas africanas são desconectadas de suas raízes, elas se tornam vulneráveis à dominação por sistemas de valores que não refletem suas realidades". A exclusão das histórias africanas dos currículos educacionais e da narrativa dominante é um exemplo claro de como o racismo líquido perpetua o genocídio negro de maneira simbólica, minando a autoestima e a autonomia das populações negras ao longo da diáspora. Para Asante, essa forma de racismo é particularmente perigosa porque é invisível, operando em níveis institucionais e culturais sem ser diretamente reconhecida.

A teoria do genocídio negro, como apontada por Frantz Fanon em Pele Negra, Máscaras Brancas (1952), ressalta a violência psicológica e cultural sofrida pelos negros ao longo da história. No contexto do racismo líquido, essa violência assume uma nova dimensão, onde as ferramentas de opressão não são mais físicas, mas simbólicas e culturais, atacando a identidade, a memória e a subjetividade negra. Fanon argumenta que a negação da história africana é uma forma de perpetuar a condição de subjugação das populações negras, que são alienadas de sua própria trajetória histórica e cultural.

Afrocentricidade: Um Caminho para a Reconstrução da Identidade

A afrocentricidade, conforme definida por Molefi Kete Asante, é um marco essencial na resistência ao genocídio cultural e na promoção da emancipação das populações negras. Asante descreve a afrocentricidade como "uma abordagem à história e à cultura que coloca as experiências africanas no centro da análise". Ao recentralizar a África como base da identidade afrodescendente, a afrocentricidade proporciona uma plataforma sólida para a resistência contra o racismo líquido e para o resgate da memória histórica apagada.

A centralidade da experiência africana na construção de narrativas históricas e culturais é fundamental para restaurar a autoestima e a agência das populações negras. Como afirma Ama Mazama, outra grande defensora da afrocentricidade, "a afrocentricidade não é apenas uma perspectiva intelectual; é uma prática de vida que exige o reconhecimento e a celebração da herança africana em todos os aspectos da existência humana". Esse ponto é crucial, pois a afrocentricidade não é apenas uma teoria acadêmica, mas uma filosofia prática de resistência e resgate cultural.

Racismo Líquido e a Mente Descarrilhada

O conceito de mente descarrilhada pode ser entendido como uma consequência direta do racismo líquido, onde as populações negras são desconectadas de suas raízes históricas e culturais, resultando em uma alienação da própria identidade. A mente descarrilhada é, em essência, o produto de uma narrativa imposta que desumaniza e desvaloriza as contribuições africanas ao longo da história.

Esse conceito é abordado por Cheikh Anta Diop, que argumenta que "a história da África é essencial para a libertação mental das pessoas negras". Para Diop, a negação da história africana é uma ferramenta fundamental de opressão, que impede as pessoas negras de reconhecerem seu valor e potencial. A afrocentricidade, ao resgatar essa história, proporciona a cura e a reconexão com uma identidade sólida e positiva.

Superando a Alienação: Educação e Cultura Afrocentrada

Para combater o racismo líquido e superar a alienação cultural das populações negras, é necessário adotar uma série de práticas que promovam o resgate da memória histórica e a valorização da herança africana. Aqui, a educação afrocentrada desempenha um papel crucial. A implementação de currículos educacionais que coloquem a história africana e afrodescendente no centro do ensino é uma estratégia fundamental para promover o empoderamento das gerações futuras.

Como aponta Ngũgĩ wa Thiong’o em Descolonizando a Mente (1986), "o processo de colonização cultural começou pela educação, e a descolonização também deve começar pela educação". Para Thiong’o, a educação é a ferramenta mais poderosa de opressão e de libertação, e, no caso das populações negras, é essencial que ela seja usada para reverter o processo de alienação cultural e reconectar as pessoas negras com suas raízes históricas.

Além da educação, a arte e a cultura afrocentradas também são fundamentais para a reconstrução da identidade afrodescendente. A música, a literatura e outras formas de expressão artística que celebram a herança africana são poderosas ferramentas de resistência contra o racismo líquido. A arte afrocentrada, ao valorizar as tradições e experiências africanas, promove a autoestima e a reconexão com a memória histórica.

Caminhos para a Superação

A superação do racismo líquido e da mente descarrilhada exige uma ação coordenada em várias frentes. A reconstrução da identidade afrocentrada passa por iniciativas práticas e filosóficas que permitam o resgate da memória histórica e a valorização das contribuições africanas. Alguns caminhos para essa superação incluem:

Educação Afrocentrada: Incorporar a narrativa africana no currículo escolar, desde o ensino básico até o superior, promovendo o reconhecimento das contribuições africanas para a humanidade.

Cultura e Arte Afrocentradas: Incentivar a produção e consumo de cultura afrocentrada como forma de resistência ao apagamento cultural. A valorização das expressões artísticas africanas é essencial para a reconstrução da identidade afrodescendente.

Ativismo Político e Social Afrocentrado: Movimentos como o pan-africanismo e o garveísmo continuam a ser formas poderosas de resistência ao racismo líquido. Esses movimentos promovem a solidariedade entre as pessoas negras da diáspora e o resgate de suas histórias e identidades.

Conclusão

A afrocentricidade oferece uma solução poderosa para a reconstrução da identidade afrocentrada em meio à modernidade líquida e ao racismo líquido. Ao recentralizar a África no pensamento e nas práticas cotidianas, a afrocentricidade promove o resgate da memória histórica e a superação das narrativas opressivas impostas pelo eurocentrismo. Como afirmou Molefi Kete Asante, "a afrocentricidade não é apenas um movimento intelectual; é uma reconquista do nosso direito de sermos agentes de nossas próprias vidas". Portanto, ao adotar práticas afrocentradas, as populações negras podem reconstruir suas identidades e resistir ao genocídio simbólico e cultural perpetuado pelo racismo líquido.

Marcus Garvey e o Pan-Africanismo: Divergências Ideológicas e a Construção do Nacionalismo Negro

Por: Mil Oniètó Estudante da Unilab Malês

Marcus Garvey e o Pan-Africanismo: Divergências Ideológicas e a Construção do Nacionalismo Negro

Marcus Garvey é, sem dúvida, uma das figuras mais controversas e influentes da história das lutas negras globais. Reverenciado por muitos como um visionário, mas duramente criticado por outros, Garvey desafiou o status quo e propôs uma rota radical para a libertação dos negros: o retorno à África e a construção de um império africano forte e independente. Contudo, sua trajetória não foi marcada apenas pela resistência ao colonialismo e ao racismo, mas também por intensas disputas internas com outros líderes negros, particularmente os pan-africanistas, que viam suas ideias com desconfiança. Embora o nome de Garvey frequentemente seja associado ao pan-africanismo, ele foi, paradoxalmente, atacado por aqueles que também lutavam por uma África livre. Este artigo investiga esse paradoxo, revelando as tensões entre Garvey e os pan-africanistas de sua época, e explorando a importância do garveísmo para a luta anticolonial e pelos direitos civis ao redor do mundo. Afinal, como pode um homem que sonhava com a liberdade total dos negros ter sido tão criticado por seus próprios pares?

A figura de Marcus Mosiah Garvey é um dos marcos fundamentais no contexto das lutas negras globais do início do século XX, especialmente no que diz respeito ao nacionalismo negro e à luta pela autodeterminação dos povos africanos e afrodescendentes. No entanto, sua relação com o pan-africanismo tradicional é frequentemente alvo de controvérsias, gerando debates que questionam se Garvey, de fato, poderia ser considerado um pan-africano. Alguns líderes e intelectuais pan-africanos da época, como W.E.B. Du Bois, se opuseram veementemente às suas ideias, criando tensões dentro do movimento de libertação global dos negros. Este artigo tem como objetivo analisar a complexidade desse debate, mostrando como Garvey foi criticado por outros pan-africanistas, e, ao mesmo tempo, destacar a importância do garveísmo para as diferentes lutas panafricanas ao redor do mundo.

O Pan-Africanismo e o Nacionalismo Negro de Garvey

O movimento pan-africanista, nascido no final do século XIX e ganhando força no início do século XX, visava unir os povos africanos e seus descendentes ao redor do mundo em uma luta comum contra o colonialismo, o racismo e a opressão. Os primeiros congressos pan-africanos, como o realizado em Paris em 1919 sob a liderança de W.E.B. Du Bois, estavam focados na integração e na cooperação entre africanos e afrodescendentes, tanto no continente quanto na diáspora. Entretanto, Marcus Garvey, com sua fundação da Universal Negro Improvement Association (UNIA), em 1914, apresentou uma abordagem diferente, mais radical e separatista, que gerou divergências profundas com outros pan-africanistas.

Garvey defendia que os negros só encontrariam verdadeira liberdade se retornassem à África e reconstruíssem uma nação forte e independente. Sua filosofia era profundamente centrada no conceito de nacionalismo negro, onde os negros deveriam criar suas próprias instituições, seus próprios negócios e sistemas de governo, livres da influência e do controle dos brancos. Ele acreditava que a opressão dos negros no Ocidente era insolúvel dentro dos sistemas europeus e americanos, propondo a criação de um império africano, governado e administrado por negros.

Para Garvey, "África para os africanos, em casa e no exterior" era mais do que um slogan, era uma estratégia concreta de emancipação. Seu esforço culminou na tentativa de criar uma companhia de navegação, a Black Star Line, para facilitar o transporte de afrodescendentes de volta ao continente africano. Entretanto, essa proposta utópica foi vista com ceticismo por muitos líderes pan-africanos da época, que preferiam lutar por melhorias dentro das sociedades onde já estavam inseridos.

A Oposição Pan-Africanista a Garvey

A divergência entre Garvey e outros pan-africanistas, especialmente com W.E.B. Du Bois, é um dos momentos mais conhecidos dessa tensão. Du Bois, que defendia a ideia de um "talento de décima", ou seja, a elevação de uma elite negra educada que lutaria por igualdade dentro das sociedades ocidentais, via a proposta de Garvey como ingênua e irrealista. Du Bois chegou a criticar duramente Garvey, chamando-o de "o maior inimigo da raça negra" . Para Du Bois, a ideia de repatriamento em massa era impraticável, e ele defendia a integração dos negros nas sociedades onde já estavam estabelecidos, acreditando que a luta por direitos civis deveria ocorrer dentro dessas nações.

Garvey, por sua vez, não recuou em suas críticas. Ele acusou intelectuais como Du Bois de estarem demasiadamente próximos dos brancos e de perpetuarem uma mentalidade subserviente. Sua visão era de que os negros precisavam de autonomia completa, e essa postura mais confrontadora isolou Garvey de muitos dos pan-africanistas tradicionais. O conflito entre Garvey e Du Bois simboliza a luta entre duas visões de libertação: uma focada na autonomia e separação, e a outra na integração e colaboração com as estruturas existentes.

A situação se intensificou quando Garvey foi preso nos EUA, acusado de fraude na administração da Black Star Line. Muitos de seus opositores, incluindo Du Bois, não apenas apoiaram a condenação, mas também colaboraram com o governo americano em investigações contra Garvey. Esse episódio destaca como os conflitos internos no movimento pan-africano chegaram ao ponto de se tornarem divisões que prejudicaram a unidade da luta global pelos direitos dos negros.

Peculiaridades do Pan-Africanismo e a Contribuição do Garveísmo

Apesar dessas diferenças, é fundamental entender que o pan-africanismo não é um movimento monolítico. Como destaca Anin Urase, em seu blog Pensamento Mulherista, há uma diversidade de interpretações e enfoques dentro do pan-africanismo, sendo Garvey uma das expressões mais peculiares dessa filosofia . Urase argumenta que Garvey trouxe à tona uma forma de resistência que transcendia as fronteiras intelectuais do pan-africanismo tradicional, propondo uma ação direta que inspirou movimentos ao redor do mundo, mesmo sendo criticado pelos seus contemporâneos.

Urase observa que o nacionalismo de Garvey acabou influenciando lutas panafricanas de diferentes formas. Movimentos como o de Kwame Nkrumah, em Gana, e Jomo Kenyatta, no Quênia, que lideraram a luta pela independência de seus países, reconheceram a importância do garveísmo na construção de uma identidade africana autônoma. A proposta de uma África forte, centralizada e independente que Garvey defendia encontrou eco na luta anticolonial que floresceu nas décadas de 1950 e 1960.

A abordagem de Garvey também serviu de inspiração para movimentos de libertação na diáspora. O Movimento Rastafári, por exemplo, com sua visão de repatriamento e sua reverência à figura de Haile Selassie, carrega influências diretas do garveísmo. A luta pelos direitos civis nos Estados Unidos também viu ecos das propostas de Garvey, especialmente no Movimento Black Power, que reivindicava a criação de instituições negras e a rejeição da assimilação dentro da cultura branca dominante.

A Importância do Garveísmo para as Lutas Pan-Africanas

Embora Garvey tenha sido criticado por pan-africanistas contemporâneos como Du Bois, sua contribuição para as lutas negras globais não pode ser subestimada. Garvey ofereceu uma perspectiva única de libertação, que focava na separação e na construção de uma África independente. Sua visão de autossuficiência, de orgulho negro e de resistência à opressão colonial e imperial foi fundamental para inspirar gerações de ativistas em todo o mundo. Mesmo que suas táticas e propostas não tenham sido aceitas universalmente, o garveísmo influenciou significativamente a luta panafricanista e moldou a forma como os negros passaram a se ver, tanto no continente africano quanto na diáspora.

Conforme afirma Anin Urase, "o garveísmo representa uma dimensão do pan-africanismo que desafia a subserviência intelectual e o compromisso com o status quo, ao mesmo tempo em que reivindica a criação de uma nova ordem política para os africanos" . É nesse sentido que o legado de Marcus Garvey permanece vivo, não apenas como um precursor do nacionalismo negro, mas como um dos pilares fundamentais das diferentes formas de luta pan-africana.

A análise das tensões entre Marcus Garvey e outros pan-africanistas, como W.E.B. Du Bois, revela as múltiplas facetas do movimento pan-africano. Enquanto Garvey foi frequentemente criticado por suas propostas separatistas, sua influência nas lutas de libertação africanas e na diáspora não pode ser ignorada. O garveísmo trouxe uma nova dimensão ao pan-africanismo, colocando a ênfase na autonomia completa e no retorno à África como uma solução definitiva para a opressão racial. Apesar de suas divergências com outros líderes, Garvey permanece uma figura central na história das lutas negras globais, cuja visão continua a ressoar nas lutas contemporâneas pela liberdade e pela justiça racial.

Racismo Líquido

UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFROBRASILEIRA INSTITUTO DE HUMANIDADE E LETRAS - CAMPUS DOS MALÊS

BACHARELADO INTERDICIPLINAR EM HUMANIDADES

Racismo Líquido: Uma Análise Crítica das Formas Fluídas de Discriminação Racial na Sociedade Contemporânea

Autor: Milson Onilètó dos Santos

Racismo Líquido: Uma Análise Crítica das Formas Fluídas de Discriminação Racial na Sociedade Contemporânea

"O que importa não é conhecer o mundo, mas mudá-lo." Frantz Fanon

Esse trabalho é fruto da observação e questionamento do estudante Mil Onilètó, estudando do curso de bacharelado interdisciplinar em humanidades, da universidade da Integração da Lusofonia Afro Brasileira, e surge após diversos estudos, eu identificar um tenso debate construído em torno da teoria do racismo, sobre tudo na diáspora Brasileira, que tem sido impactada de uma forma peculiar por toda estrutura do imperialismo e suas contribuições para o dilacerar da noções de humanidades destruídos no processo de colonização e pós colonização. E é uma tentativa de enriquecer o debate sobre o racismo, afim de contribuir para o entendimento desse fenômeno que acompanha a historia da humanidade. Afim de esmiuçar das estrutura e funcionamento do racismo na contemporaneidade e diretamente provocado pela disputa epistêmica travada entre as ideias dos pensadores, Silvio Almeida, que defende o termo racismo estrutural e por um outro lado Clovis Moura que discorda veemente da ideia e propõe que o racismo é fruto das interações sociais, e que se fosse estrutural já teríamos vencido.

Ao acompanhar as defesas das ideias, nos deparamos com outro pensador, Hertes Dias, que aponta que nem um nem outro, autores estão corretos. Percepção essa que a primeiro momento me deixou profundamente curioso e pra perceber a peculiaridade do racismo e sua capacidade de se adaptar e com isso mudar a forma como que as pessoas se relacionam, principalmente no que diz respeito a ideia de racialização.

A modernidade, enquanto conceito que engloba transformações sociais, políticas e econômicas, foi também o terreno fértil para a emergência do racismo como estrutura de dominação. A modernidade sólida, caracterizada por suas instituições estáveis e pela criação de sistemas de vigilância e controle, como descrito por Michel Foucault através do conceito de panoptismo, sustentou um racismo estruturado e sistêmico. No entanto, com a transição para a chamada modernidade líquida, conforme teorizado por Zygmunt Bauman, as formas de opressão também se tornaram mais fluidas e adaptáveis. Nesse contexto, propomos o conceito de racismo líquido, uma forma de discriminação racial que se ajusta às dinâmicas fluidas da sociedade neoliberal, globalizada e digitalizada.

Este artigo busca analisar como o racismo, uma vez sólido e institucionalizado, se adapta às novas realidades sociais, tornando-se uma força líquida, e como as noções de liberdade, particularmente a distinção entre liberdade negativa e positiva, afetam e se entrelaçam com essa transformação. Para tanto, será explorada a relação entre racismo e capitalismo racializado, neoliberalismo e a adaptação do racismo nas esferas digitais e globalizadas. Além disso, serão discutidas as implicações das novas formas de racismo nas lutas antirracistas contemporâneas e os desafios de lidar com uma discriminação mais sutil e invisível.

Modernidade Sólida, Panoptismo e Racismo Estrutural

A modernidade sólida, conceito estabelecido por Bauman, foi marcada pela rigidez das instituições e pela criação de sistemas estáveis de controle social. Nesse contexto, o racismo funcionava como uma ferramenta central de dominação, legitimando a exploração econômica e a opressão racial, especialmente no período colonial e pós-colonial. Michel Foucault, ao discutir o panoptismo, destaca como o controle e a vigilância eram exercidos por meio de instituições, como prisões e escolas, mas também por meio da normatização de práticas racistas que marginalizavam as populações não brancas.

Uma provocação que serve como uma reflexão fundamental no estudo das relações coloniais e raciais. Quando perguntamos: "Os colonizadores tornaram-se racistas porque colonizaram, ou colonizaram porque eram racistas?", estamos na verdade explorando a gênese do racismo enquanto sistema de dominação, ligado diretamente ao processo de colonização.

Essa pergunta provoca discussões sobre a instrumentalização do racismo no processo de justificação da colonização e a construção da superioridade racial como uma ferramenta de exploração. Algumas reflexões que podem guiar esse debate é, colonização como catalisadora do racismo: Segundo pensadores como Frantz Fanon, o racismo pode ser visto como uma consequência da colonização. Ao invadir, dominar e explorar outras culturas, os colonizadores criaram uma ideologia de superioridade racial para legitimar essas ações. O racismo, nesse sentido, seria um artifício usado para justificar a exploração, criando uma hierarquia entre o "colonizador civilizado" e o "colonizado selvagem".

O racismo como motivação da colonização por outro lado, há o argumento de que as ideologias racistas já existiam e foram parte do impulso colonizador. A visão de superioridade europeia, baseada em categorias étnicas e raciais, precedeu o processo colonial e motivou a expansão imperialista. Essa visão já estava presente em práticas como a escravização de africanos e a evangelização forçada, onde se buscava subordinar povos não europeus sob a perspectiva de uma "missão civilizatória".

Portanto, essa questão não tem uma resposta simples, mas abre o caminho para compreender como o racismo foi tanto uma ferramenta quanto uma justificativa para o processo de colonização, criando um ciclo vicioso onde colonização e racismo se reforçam mutuamente. Isso nos ajuda a perceber que o racismo não é um subproduto de ações isoladas, mas uma construção histórica complexa que ainda impacta profundamente as sociedades contemporâneas.

Cedric J. Robinson, em sua teoria do capitalismo racial, argumenta que o racismo foi uma ferramenta estruturante do próprio sistema capitalista, permitindo a exploração da mão de obra negra e indígena. Nesse sentido, o racismo não era uma questão moral ou acidental, mas uma característica fundamental da modernidade capitalista. A vigilância panóptica de Foucault, com seu foco no controle constante, pode ser vista como um reflexo da vigilância racial, que garantia a manutenção das hierarquias raciais e a reprodução do racismo estrutural nas sociedades ocidentais.

Racismo Estrutural e Capitalismo Racializado

O racismo estrutural emergiu como um mecanismo fundamental para garantir a perpetuação das desigualdades entre brancos e negros em sociedades coloniais e pós-coloniais. Esse conceito, amplamente explorado por teóricos como Silvio Almeida, aponta que o racismo não deve ser visto apenas como uma questão de atitudes individuais ou preconceitos isolados, mas como uma estrutura sistemática que permeia todas as dimensões da vida social, política e econômica.

No contexto colonial e pós-colonial, as políticas de segregação racial, como o apartheid na África do Sul, as leis Jim Crow nos Estados Unidos e a discriminação formal e informal nas economias coloniais, são exemplos concretos de como o racismo foi institucionalizado para garantir a dominação racial e econômica. Almeida destaca que o racismo estrutural é parte integrante do funcionamento das instituições e que ele não depende de atos deliberados de racismo individual. Ao contrário, o racismo estrutural se manifesta de forma automática, através de mecanismos históricos e sociais que reproduzem e perpetuam desigualdades racializadas.

A exploração da mão de obra negra e indígena no capitalismo racializado reflete essa dinâmica, reforçando a ideia de que o racismo está entranhado nas estruturas econômicas globais. A partir do

pensamento de Silvio Almeida, podemos compreender que o racismo estrutural está diretamente ligado à forma como o capitalismo se desenvolveu, especialmente nas colônias, onde a hierarquia racial foi essencial para justificar a exploração e a desigual distribuição de riqueza e poder. A mão de obra negra e indígena foi expropriada e subordinada a um sistema econômico que, por sua própria lógica, necessitava da subjugação de grupos racialmente marcados para se expandir e lucrar.

Para Almeida, o racismo é funcional ao capitalismo porque organiza a distribuição desigual de recursos e poder entre diferentes grupos raciais. Ele argumenta que o racismo não é um fenômeno separado do capitalismo, mas, ao contrário, é uma engrenagem que possibilita a manutenção das desigualdades econômicas e sociais. O capitalismo racializado, portanto, se vale do racismo estrutural para legitimar a exploração e garantir que as populações racializadas permaneçam nas posições subalternas do sistema produtivo.

Essas políticas de segregação e a exploração econômica dos povos negros e indígenas, portanto, não apenas reforçavam a dominação branca, mas também serviam para institucionalizar o racismo nas estruturas políticas e econômicas das sociedades coloniais e pós-coloniais. Para combater o racismo estrutural, é preciso uma transformação profunda dessas estruturas, como sugere Silvio Almeida, reconhecendo que o racismo é um problema sistêmico e não meramente individual, e que ele é intrinsecamente ligado às dinâmicas do capital e à sua histórica relação com a opressão racial.

A transição para a modernidade líquida trouxe consigo uma profunda transformação nas estruturas sociais e, com isso, uma modificação nas formas de controle, poder e, por consequência, no racismo. Como aponta Zygmunt Bauman, o conceito de "liquidez" na modernidade refere-se a um estado de fluxos constantes, onde as estruturas rígidas e tradicionais da modernidade sólida se dissolvem, cedendo lugar a relações mais fluidas, flexíveis e, em muitos casos, imperceptíveis. Essas transformações afetaram diretamente o modo como o racismo se manifesta, criando o que podemos chamar de "racismo líquido" — um racismo que, embora não seja tão visível ou institucionalizado como no passado, permanece igualmente opressivo, adaptando-se às novas formas de organização social.

Dissolução das Estruturas Sólidas e o Racismo Líquido

No contexto da modernidade sólida, o racismo operava de forma explícita, com barreiras legais e sociais claramente delineadas. As leis segregacionistas, a escravidão e os regimes coloniais eram representações concretas de um racismo estruturado e institucionalizado. No entanto, à medida que essas formas de discriminação foram sendo derrubadas por movimentos sociais e mudanças políticas, as antigas estruturas começaram a se dissolver. O racismo, contudo, não desapareceu; ele se adaptou às novas condições da modernidade líquida, onde as instituições rígidas deram lugar a um mercado globalizado, às redes de comunicação e à flexibilização das relações de poder.

Na modernidade líquida, o racismo não precisa mais de legislações explícitas para se perpetuar; ele opera de maneira mais sutil e muitas vezes invisível, inserido nas dinâmicas cotidianas das relações

sociais e econômicas. As discriminações não são mais fundamentadas abertamente em critérios raciais, mas se manifestam em políticas de exclusão disfarçadas de neutralidade ou meritocracia, na precarização das condições de vida de determinadas populações e na manutenção de desigualdades estruturais que não são facilmente perceptíveis.

O Papel da Mídia e a Representatividade como Mercadoria

A mídia, que historicamente desempenhou um papel central na construção e na reprodução de estereótipos raciais, adaptou-se rapidamente a essa nova realidade líquida. Durante a modernidade sólida, os negros eram sistematicamente excluídos dos meios de comunicação ou retratados de maneira estereotipada e negativa. Havia uma negação da imagem negra, uma recusa em incluir representações positivas de pessoas negras na mídia mainstream. Com a transição para a modernidade líquida, porém, essa exclusão foi sendo substituída por uma exploração econômica da imagem negra, frequentemente travestida de "representatividade".

Sob o discurso da diversidade e da inclusão, muitas corporações e meios de comunicação passaram a inserir corpos negros em campanhas publicitárias, filmes e séries de televisão. No entanto, em muitos casos, essa representatividade não se traduz em uma verdadeira inclusão social ou empoderamento. Pelo contrário, trata-se da transformação de corpos negros em mercadorias, em símbolos de consumo que servem para lucrar em um mercado que, cada vez mais, demanda diversidade. Dessa forma, o racismo líquido se manifesta quando a imagem da luta antirracista é cooptada pelo capitalismo, diluindo seu conteúdo crítico e transformando-a em um produto rentável.

A representatividade, que poderia ser uma ferramenta poderosa de transformação social, é muitas vezes utilizada de maneira superficial e despolitizada, transformando o negro em um objeto de consumo e desviando o foco das discussões estruturais sobre o racismo. Isso gera uma falsa sensação de progresso, onde a presença de pessoas negras na mídia é vista como sinônimo de avanço, enquanto as desigualdades sistêmicas que sustentam o racismo permanecem intactas.

A Cooptção da Luta Antirracista e os Perigos da Superficialidade

O fenômeno da cooptção da luta antirracista na modernidade líquida é um reflexo direto da adaptabilidade do racismo a novas realidades. Enquanto, no passado, a militância negra se organizava de forma sólida e radical contra as estruturas opressoras do racismo, hoje essa luta corre o risco de ser diluída e instrumentalizada em prol de interesses mercadológicos e corporativos. Ao invés de enfrentar o racismo de maneira profunda e estrutural, muitas vezes a militância é incorporada em um discurso politicamente correto que, embora importante em alguns contextos, acaba por não tocar nas raízes profundas das desigualdades raciais.

Esse processo de esvaziamento e cooptção é perigoso porque pode transformar a luta antirracista em uma mera reflexão superficial, impedindo que mudanças verdadeiras ocorram. Quando o foco da luta

se restringe a questões de visibilidade e representatividade, sem abordar a desigualdade econômica, a violência policial, a educação precária e outros fatores que afetam desproporcionalmente as populações negras, corre-se o risco de perpetuar o status quo. Assim, o racismo líquido se torna ainda mais difícil de combater, pois ele se esconde sob o véu da inclusão aparente, enquanto mantém intactas as bases econômicas e sociais da opressão racial.

Liberdade e Racismo Líquido: A Dialética Entre Liberdade Positiva e Negativa

Nesse contexto, é essencial reexaminar os conceitos de liberdade, particularmente as distinções feitas por Isaiah Berlin entre liberdade positiva e liberdade negativa. Na liberdade negativa, entendida como a ausência de coerção, o indivíduo é livre quando não há interferências externas em suas ações. Na modernidade líquida, o racismo líquido parece operar dentro desse conceito de liberdade negativa, onde a discriminação direta pode não ser visível ou legalmente sancionada, mas onde as barreiras invisíveis, como o racismo institucional e a desigualdade estrutural, continuam a impedir que as populações negras possam exercer uma verdadeira liberdade.

Por outro lado, a liberdade positiva — a capacidade de agir em conformidade com a própria vontade, de ter controle sobre sua vida e alcançar o pleno desenvolvimento de suas capacidades — é profundamente negada às populações negras na modernidade líquida. O racismo líquido impede a realização dessa liberdade positiva, ao manter, de forma oculta e adaptável, as condições que perpetuam a opressão racial.

Racismo Líquido: A Fluidez da Discriminação na Modernidade Contemporânea

Com a transição para a modernidade líquida, o racismo passou a assumir formas mais sutis e fluídas, adaptando-se às novas dinâmicas sociais e econômicas. Como Zygmunt Bauman sugere, as instituições na sociedade líquida são menos rígidas, e as identidades, assim como os sistemas de opressão, são mais maleáveis. O racismo líquido opera dentro dessas novas dinâmicas, utilizando o neoliberalismo e a globalização para perpetuar as desigualdades raciais de maneira menos visível.

O racismo líquido se manifesta em esferas digitais, por meio de algoritmos que reforçam estereótipos raciais e plataformas online que permitem a disseminação de discursos de ódio racial, muitas vezes sob o véu da liberdade de expressão. O trabalho de Safiya Umoja Noble em Algorithms of Oppression destaca como as tecnologias digitais, em vez de serem neutras, reproduzem as mesmas hierarquias raciais presentes na sociedade física, criando novos mecanismos de exclusão e discriminação. Na modernidade líquida, o racismo não é mais exercido por meio de políticas abertamente racistas, mas através de um conjunto de práticas adaptáveis que reforçam as desigualdades de maneira silenciosa e sistêmica.

Liberdade na Modernidade Líquida: Uma Análise Crítica da Liberdade Positiva e Negativa

A ideia de liberdade, particularmente nas sociedades modernas e contemporâneas, também se transforma na modernidade líquida. Isaiah Berlin, em sua teoria das duas liberdades, descreve a liberdade negativa como a ausência de impedimentos externos — a liberdade "de algo", enquanto a liberdade positiva refere-se à capacidade de um indivíduo agir de maneira autônoma — a liberdade "para algo".

Na modernidade líquida, o discurso de liberdade negativa é frequentemente apropriado pelo neoliberalismo para justificar políticas que negligenciam as necessidades sociais e ignoram as desigualdades estruturais. A liberdade, nesse sentido, é vista como a ausência de intervenção do Estado, o que, em sociedades racializadas, apenas reforça as desigualdades já existentes, permitindo que o racismo líquido floresça.

Por outro lado, a liberdade positiva — a capacidade real de indivíduos, especialmente de populações racializadas, exercerem sua autonomia e alcançarem igualdade de oportunidades — é severamente limitada na modernidade líquida. A flexibilidade da sociedade líquida, muitas vezes apresentada como uma forma de maior liberdade, resulta em uma precariedade generalizada para essas populações, que continuam a enfrentar barreiras invisíveis no mercado de trabalho, na educação e em outras esferas da vida.

Neoliberalismo e Racismo Líquido

O neoliberalismo, ao promover uma visão de mundo onde o mercado é soberano e as instituições públicas são enfraquecidas, cria as condições ideais para a adaptação do racismo líquido. Como argumenta Wendy Brown em suas críticas ao neoliberalismo, as políticas neoliberais desmontam os sistemas de proteção social, que são fundamentais para mitigar as desigualdades raciais. Sob o neoliberalismo, o racismo não desaparece; ao contrário, ele se transforma em uma forma privatizada e individualizada de discriminação, onde as responsabilidades sociais são transferidas para os indivíduos, escondendo as desigualdades estruturais.

A precarização da mão de obra, que afeta desproporcionalmente as populações negras e indígenas, e a gentrificação de áreas urbanas são exemplos de como o racismo líquido opera dentro da lógica neoliberal. O racismo se adapta, tornando-se menos visível, mas ainda profundamente enraizado nas estruturas econômicas globais. As desigualdades raciais continuam a crescer, mesmo que o racismo líquido opere por meio de práticas menos óbvias do que as discriminações raciais abertas do passado.

O Racismo Global e o Sul Global

O racismo líquido também pode ser analisado sob uma perspectiva global, especialmente no contexto do Sul Global. O conceito de colonialidade do poder, formulado por Aníbal Quijano, é central para entender como o racismo líquido funciona no cenário globalizado. Mesmo após o fim formal do colonialismo, as hierarquias raciais e as relações de exploração continuam a operar dentro da lógica capitalista global. Países do Sul Global continuam a ser explorados economicamente, e suas populações racializadas sofrem com a precarização do trabalho e a falta de acesso a direitos básicos.

Na modernidade líquida, as práticas racistas se adaptam a essas novas dinâmicas globais, permitindo que as potências econômicas do Norte Global mantenham o controle sobre o Sul Global por meio de políticas econômicas e comerciais que perpetuam a desigualdade. O racismo, portanto, assume uma forma líquida, fluindo entre as fronteiras e adaptando-se às novas formas de dominação e exploração.

Racismo Líquido e Lutas Antirracistas na ModernidadeContemporânea

A conclusão de qualquer análise sobre o racismo, especialmente sob a ótica do racismo estrutural e líquido, exige uma reflexão profunda sobre os caminhos possíveis para a sua superação. Nesse sentido, o quilombismo ,Abdias do Nascimento, a superação do racismo não se dá apenas pela resistência, mas pela construção de novas realidades. Os quilombos históricos, formados por negros fugidos do cativeiro, eram espaços de organização social, política e cultural que negavam a lógica colonial e racista imposta. O quilombismo moderno resgatou essa ideia ao propor uma reorganização comunitária, pautada em princípios africanos de coletividade, solidariedade e autodeterminação. Nesse sentido, a acompanhamento das noções de afrocentricidade , defende Molefi Kete Asante.

A luta antirracista, ao focar-se exclusivamente no combate às manifestações do racismo, corre o risco de perpetuar uma batalha sem fim, onde o poder e a narrativa ainda estão centrados em uma lógica eurocêntrica. Em vez disso, o quilombismo e o panafricanismo propõem uma luta pela autonomia, pela afirmação da cultura africana e pela criação de estruturas sociais próprias que resistam e transcendam o racismo. A luta antirracista, embora válida e necessária em muitos contextos, pode cair na armadilha de simplesmente reagir às opressões, sem oferecer uma alternativa verdadeira e autossustentável para a emancipação da população negra.

Portanto, a luta contra o racismo deve ser redirecionada para a construção de um novo paradigma, onde as populações negras não buscam apenas integração em uma sociedade racista, mas sim a construção de suas próprias bases de poder, cultura e economia. Essa perspectiva, defendida pelo quilombismo e pelo panafricanismo, rejeita a ideia de que o progresso virá da simples oposição ao racismo. Ao invés disso, o caminho ideal é a criação de uma nova ordem, pautada nos valores africanos, na solidariedade internacional entre negros e na criação de espaços independentes de resistência e florescimento.

As observações levantas Asante, a cerca das noções de afrocentricidade é, nesse sentido, a chave para uma possivel superação do racismo. A busca por uma agencia e identidade própria, não moldada pelos parâmetros da opressão, é mais eficaz do que uma luta antirracista que apenas responde ao racismo sem propor alternativas reais de autonomia e emancipação. Ao se pensar sobre a superação do racismo, torna- se crucial não apenas a identificação e a crítica das estruturas que perpetuam a opressão, mas, principalmente, a construção de novos paradigmas que valorizam as identidades negras e promovem a autonomia e agencias para as pessoas pretas. A luta anti racista , com sua proposta, a luta pela liberdade,

portanto, deve ir além da simples negação do racismo; ela deve ser uma afirmação positiva de nossas identidades e potências, resultando na construção de um futuro onde as populações negras possam viver de forma plena, sem as amarras do racismo estrutural e líquido. É fundamental que uma militância antiracista se conecte com esses ideais positivos de liberdade, buscando formas efetivas de implementar as mudanças possíveis para a verdadeira transformação social.

Para tal, é necessário que as lideranças e movimentos sociais estejam alinhados com as filosofias que promovem a autonomia e a autoafirmação. Essa aproximação ao quilombismo e ao panafricanismo não apenas fortalece as lutas locais, mas também se alinha a um movimento global que busca a justiça racial, econômica e social. O fortalecimento das redes de solidariedade entre as populações africanas e afrodescendentes é uma estratégia poderosa para combater o racismo em suas diversas manifestações e para criar um mundo mais justo e Por fim, ao refletirmos sobre a história do racismo e suas ramificações, é vital lembrar que a verdadeira luta contra essa opressão não é uma batalha isolada, mas um esforço coletivo que exige um compromisso contínuo com a justiça social e a dignidade humana. Assim, ao nos inspirarmos em pensadores como Abdias do Nascimento, é imperativo ressaltar que a luta contra o racismo deve ser compreendida como um processo contínuo de aprendizagem, conscientização e ação direta cultural . As lições do passado e as visões de futuro propostas por pensadores quilombistas e panafricanistas nos oferecem não apenas um diagnóstico das injustiças raciais, mas também e perspectivas para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

Essa jornada requer um compromisso genuíno de todos nós. É fundamental que, enquanto indivíduos e coletividades, nos empenhemos em desconstruir as narrativas racistas enraizadas em nossa cultura e sociedade. Ao abraçar o quilombismo e a afrocentricidade, podemos nos unir em torno de uma causa maior, que visa não apenas erradicar as formas de opressão, mas também celebrar nossas vidas!

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Silvio de Almeida. Racismo Estrutural. São Paulo: Editora Beijo Flor, 2017.

ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricity: The Theory of Social Change. Chicago: African American Images, 2003. FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2008.

NASCIMENTO, Abdias do. O Quilombismo: Manifesto. São Paulo: Editora Ática, 1982.

NKRUMAH, Kwame. Neocolonialism: The Last Stage of Imperialism. London: Nelson, 1965.

SILVA, Lélia Gonzalez. A Resistência e a Reexistência: a Luta dos Negros no Brasil. São Paulo: Editora Boitempo, 2019. WILLIAMS, Patrick; CHRISTIE, Laura. Racism: A Short History. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

exercicio fixação modulo 1

Aqui estão exercícios de fixação para o Módulo 1: Introdução ao Iorubá, baseados nos livros referenciais "Yoruba Language and Literature" de Wande Abimbola e Ìwé Kìíní ti Èdè Yorùbá. Os exercícios vão reforçar a compreensão da língua, cultura e práticas iorubás, com foco na fonética, gramática e expressões culturais.

Exercícios de Fixação

1. Identificação Tonal

  • A língua iorubá é tonal, então a pronúncia correta das palavras é essencial.
  • Instrução: Leia as palavras abaixo e identifique os tons (alto, médio ou baixo). Se possível, pronuncie as palavras em voz alta.
    • (ir), (gritar), ba (aceitar)
    • olórun (Deus), órùnmìlà (Orunmilá), ẹ̀kún (lágrimas)

Exemplo de Resposta: - (alto), (baixo), ba (baixo) - olórun (alto-baixo), órùnmìlà (alto-médio-baixo), ẹ̀kún (baixo-alto)

2. Construção de Frases Simples

  • O iorubá tem uma estrutura gramatical SVO (Sujeito-Verbo-Objeto).
  • Instrução: Use as palavras abaixo para criar frases completas. Lembre-se de usar o pronome correto e a ordem gramatical.
    • Palavras: Mo (Eu), fẹ́ (quero), ounje (comida), O (Ele/Ela), je (comer), ilé (casa), lọ (ir).

Exemplo de Resposta: - Mo fẹ́ ounje (Eu quero comida). - O lọ ilé (Ele/Ela vai para casa).

3. Saudações e Situações Cotidianas

  • Saudações iorubás são muito contextuais, e o uso adequado reflete respeito.
  • Instrução: Combine as saudações com a situação apropriada.
    • Saudações: Ẹ káàárọ̀ (Bom dia), Ẹ káàsán (Boa tarde), Ẹ kúulé (Bem-vindo), Ẹ káalẹ́ (Boa noite).
    • Situações:
      1. Você encontra alguém pela manhã.
      2. Alguém chega à sua casa à tarde.
      3. Você deseja boa noite a uma pessoa.

Exemplo de Resposta: - 1. Ẹ káàárọ̀ (Bom dia). - 2. Ẹ káàsán (Boa tarde). - 3. Ẹ káalẹ́ (Boa noite).

4. Exercício de Vocabulário

  • Praticar o reconhecimento e a tradução de palavras é essencial.
  • Instrução: Traduza as palavras abaixo para o português.
    • ajá (cão), ilé (casa), ọmọdé (criança), ẹ̀kún (lágrimas), ọbẹ̀ (sopa), agbára (força).

Exemplo de Resposta: - ajá – cão - ilé – casa - ọmọdé – criança - ẹ̀kún – lágrimas - ọbẹ̀ – sopa - agbára – força

5. Diálogo Prático

  • Criação de diálogos ajuda na compreensão da gramática e vocabulário.
  • Instrução: Escreva um diálogo simples entre duas pessoas se encontrando pela manhã. Use pelo menos três frases em iorubá.

Exemplo de Resposta: - Pessoa A: Ẹ káàárọ̀! (Bom dia!) - Pessoa B: Báwo ni? (Como vai?) - Pessoa A: Mo wa dada. Iwọ nko? (Estou bem. E você?)

6. Expressões Culturais

  • O iorubá está fortemente ligado à cultura e à religião.
  • Instrução: Relacione as seguintes expressões com seus significados ou contexto cultural.
    • Oríkì (poema de louvor), Orunmilá (divindade da sabedoria), Ẹ̀bọ (sacrifício), Ọya (deusa dos ventos).

Exemplo de Resposta: - Oríkì – Poema de louvor, usado para exaltar as divindades e ancestrais. - Orunmilá – Divindade da sabedoria, central no culto de Ifá. - Ẹ̀bọ – Sacrifício, parte importante dos rituais religiosos. - Ọya – Deusa dos ventos e tempestades.

Referências para aprofundamento

  • Livro: Yoruba Language and Literature - Wande Abimbola
  • Livro: Ìwé Kìíní ti Èdè Yorùbá - Introdução ao iorubá

Esses exercícios ajudam a fixar o conteúdo, enquanto o aluno se aprofunda na compreensão cultural e linguística da língua iorubá.

modulo 1

Para organizar e aprofundar o Módulo 1 de iorubá, podemos começar com uma introdução abrangente sobre a estrutura e características da língua, abordando aspectos históricos, culturais e linguísticos. Aqui está um esboço detalhado:

Módulo 1: Introdução ao Iorubá

1. História e Origens da Língua Iorubá

  • A língua iorubá é uma das mais faladas no Oeste da África, especialmente na Nigéria, Benim e Togo.
  • Origens ligadas ao povo iorubá, cuja civilização remonta a séculos de tradição oral e cultural.
  • O iorubá também é uma língua sacralizada em práticas religiosas, como o Candomblé e Ifá, especialmente na diáspora africana, incluindo o Brasil.

2. Características Fonológicas

  • Tons: O iorubá é uma língua tonal, com três tons principais (alto, médio e baixo), que são essenciais para distinguir significados.
    • Exemplos: ba (baixo), (alto), (baixo), báà (alto-baixo).
  • Vogais: Existem sete vogais em iorubá (a, e, ẹ, i, o, ọ, u), que variam entre abertas e fechadas.
  • Consoantes: Algumas consoantes do iorubá podem ser difíceis para falantes de português, como gb (uma consoante dupla sonora).

3. Estrutura Gramatical

  • O iorubá tem uma estrutura SVO (Sujeito-Verbo-Objeto), semelhante ao português.
    • Exemplo: Mo fẹ́ jeun (Eu quero comer).
  • Pronomes: Pronomes pessoais são essenciais e influenciam a conjugação verbal.
    • Mo (Eu), O (Ele/Ela), Awa (Nós).
  • Verbos: Não há distinção entre passado, presente e futuro como em línguas europeias; o contexto e marcadores temporais determinam o tempo verbal.
    • Exemplo: Mo fẹ́ (Eu quero), Mo fẹ́ràn (Eu amo).

4. Saudações e Expressões Básicas

  • As saudações em iorubá são altamente contextuais, refletindo o respeito e a hierarquia social.
  • Exemplos de saudações:
    • Ẹ káàárọ̀ (Bom dia)
    • Ẹ káàsán (Boa tarde)
    • Ẹ kúulé o (Bem-vindo(a))
  • Báwo ni? (Como vai?) — uma forma comum de perguntar sobre o bem-estar.

5. Exercícios Práticos

  • Leitura e pronúncia de palavras em iorubá, com foco nos tons e na correta articulação de vogais e consoantes.
  • Diálogo básico: Construção de frases simples para comunicação diária.

6. Cultura e Religião

  • A língua iorubá está profundamente entrelaçada com a religião e os rituais tradicionais, como o culto a Orunmilá e a prática de Ifá.
  • Introdução a expressões religiosas:
    • Orunmila bami ká ire (Orunmila, ajude-me a coletar bênçãos).
  • Importância das cantigas e orikis (cânticos de louvor).

7. Material de Apoio

  • Livros recomendados: "Yoruba Language and Literature" (Wande Abimbola) e "Ìwé Kìíní ti Èdè Yorùbá" (um manual de iorubá para iniciantes).
  • Sites de aprendizado online: Aplicativos e vídeos introdutórios sobre fonética e gramática.

Com este esboço, o aluno poderá adquirir uma base sólida para continuar seus estudos na língua e na cultura iorubá. O próximo passo é criar exercícios interativos e atividades práticas para fixação.

yoruba rascunhos projeto

Curso Yoruba Fluência.

Bem-vindo ao curso de Yoruba focado na fluência! O objetivo deste curso é ajudá-lo a desenvolver habilidades de conversação em Yoruba, para que você possa se comunicar de forma eficaz com falantes nativos da língua. Ao longo do curso, você aprenderá a gramática básica, o vocabulário essencial e as habilidades de conversação necessárias para se tornar fluente em Yoruba.

Módulo 1: Introdução ao Yoruba

Nesta primeira aula, vamos começar aprendendo sobre a história e cultura do povo Yoruba. Os Yorubas são um povo que habita o sudoeste da Nigéria, bem como em países como Benin e Togo. Eles têm uma rica tradição cultural, incluindo a arte, a música, a literatura e a religião.

Em seguida, vamos aprender o alfabeto Yoruba. O alfabeto Yoruba é composto por 25 letras, e é um pouco diferente do alfabeto latino que usamos para escrever em português.

As letras do alfabeto Yoruba são: A, B, D, E, E, F, G, GB, H, I, J, K, L, M, N, O, Ọ, P, R, S, Ṣ, T, U, W, Y. Algumas dessas letras são acentuadas, com linhas verticais ou horizontais. É importante prestar atenção a esses acentos, já que eles afetam a pronúncia das palavras.

Depois de aprendermos o alfabeto Yoruba, vamos aprender algumas saudações e expressões básicas em Yoruba. Por exemplo:

Bàbá mi ní orúkọ Fẹ́mi - Meu pai se chama Femi

Káàbò - Olá

E káàrọ̀ - Bom dia

O dàbò - Boa tarde

O dàalù - Boa noite

O sé wa - Como você está?

Máa ń sẹ́ bẹ̀ẹ̀ ni - Estou bem, obrigado

Ọkun ọ̀la - Obrigado

Módulo 2: Gramática Yoruba

Agora que já aprendemos um pouco sobre a cultura e o alfabeto Yoruba, vamos nos concentrar na gramática.

Em Yoruba, as palavras têm gênero e número, assim como em português. Os substantivos têm dois gêneros, masculino e feminino, e são geralmente marcados pelo prefixo que vem antes da palavra.

Por exemplo:

Ẹ̀yẹ - Pássaro (masculino)

Ọmọdé - Criança (feminino)

Os substantivos também podem ser plurais, e geralmente são marcados pelo sufixo que vem após a palavra.

Por exemplo:

Ẹ̀yẹ - Pássaro (singular)

Ẹ̀yẹ́rín - Pássaros (plural)

Em seguida, vamos aprender sobre os verbos em Yoruba. Os verbos em Yoruba são conjugados de acordo com o tempo, aspecto e modo.

Por exemplo, o verbo "sẹ́" (fazer) é conjugado assim:

Mọ́ - Eu faço

Ọ̀ - Você faz

Ọ́ - Ele/ela faz

Awa - Nós fazemos

Ẹ́won - Eles/elas fazem

Módulo 3: Vocabulário Yoruba

Agora que já aprendemos

No módulo anterior, aprendemos sobre gramática Yoruba. Agora, vamos expandir nosso vocabulário em Yoruba e aprender mais palavras e frases úteis.

Nesta aula, vamos aprender palavras relacionadas a comida e bebida. Por exemplo:

Amala - um prato feito com farinha de inhame

Eba - um prato feito com farinha de mandioca

Suya - um espeto de carne grelhada

Boli - banana frita

Pounded Yam - purê de inhame

Egusi - uma sopa feita com sementes de melão

Efo Riro - uma sopa feita com espinafre

Em seguida, vamos aprender algumas frases úteis que podem ser usadas em restaurantes ou em casa:

Bẹ̀ẹ̀ni mọ̀ ẹ̀yẹ̀rín jẹ́? - Você serve frango?

Kí ni ká má jẹun? - O que vamos comer?

Jọ̀wọ́ pẹ́pẹ́ẹ̀yìn mi sẹ́un - Por favor, traga a conta

Mo jẹun tí í yẹn tó bájẹ́ - Eu comi isso antes e gostei

Jọ̀wọ́ fun mi ọmọtọ́ níbò ti o de ṣe ẹ̀ - Por favor, onde é o banheiro?

Módulo 4: Conversação em Yoruba

Neste módulo, vamos praticar conversação em Yoruba. Vamos praticar a habilidade de entender e responder perguntas básicas em Yoruba.

Para começar, vamos praticar perguntas e respostas simples. Por exemplo:

Ẹ́ káàsán ni yẹn? - Que horas são?

Àárọ́ ni - É de manhã

Kíni orúkọ rẹ̀? - Qual é o seu nome?

Orúkọ mi ni Tunde - Meu nome é Tunde

Vamos praticar também fazendo perguntas sobre gostos e preferências pessoais. Por exemplo:

Kíni ọ̀kan náà yọ? - Qual é o seu animal favorito?

Ẹyẹ - Pássaro

Kíni ọ̀kan náà o ní àwọn wọn níbo lọ? - Onde você gosta de passear?

Mọ̀lé - Praia

Kíni orúkọ ìtẹ́lévíṣọn tó ń ṣe ní ìwé wọn? - Qual é o seu programa de TV favorito?

Tinsel

Por fim, vamos praticar a habilidade de fazer perguntas e responder em um contexto mais avançado, como falar sobre hobbies, profissão e família.

Módulo 5: Prática de Fluência

Neste módulo, vamos praticar a fluência em Yoruba. Vamos praticar a habilidade de falar livremente em Yoruba e se comunicar com os outros.

Para isso, vamos começar com um exercício de prática de fala livre. Vamos escolher um tópico e falar sobre ele por alguns minutos em Yoruba, sem inter

formato de apostila

Módulo 1: Introdução ao Yoruba

Introdução

Sobre a língua Yoruba

Importância do aprendizado de Yoruba

Alfabeto Yoruba

Apresentação do alfabeto Yoruba

Pronúncia e uso das vogais e consoantes

Saudações e Frases Comuns

Cumprimentos básicos em Yoruba

Frases comuns para o dia a dia

Vocabulário básico

Módulo 2: Gramática Yoruba

Substantivos

Gênero e número

Formação do plural

Pronomes

Pessoais

Possessivos

Verbos

Conjugação em presente, passado e futuro

Uso dos auxiliares

Adjetivos

Posição e concordância

Preposições

Uso e exemplos

Módulo 3: Vocabulário Temático

Comida e Bebida

Lista de palavras relacionadas a comida e bebida Frases úteis para usar em restaurantes ou em casa Família e Parentesco

Lista de palavras relacionadas a família e parentesco Frases úteis para falar sobre sua família Trabalho e Profissões

Lista de palavras relacionadas a trabalho e profissões Frases úteis para falar sobre sua profissão Módulo 4: Conversação em Yoruba

Perguntas e Respostas Simples

Prática de perguntas e respostas simples em Yoruba Gostos e Preferências Pessoais

Prática de perguntas e respostas sobre gostos e preferências pessoais em Yoruba Hobbies e Atividades

Prática de perguntas e respostas sobre hobbies e atividades em Yoruba Família e Parentesco

Prática de perguntas e respostas sobre a família em Yoruba Módulo 5: Prática de Fluência

Exercícios de Fala Livre

Escolha de um tópico para falar livremente em Yoruba Prática da fluência e da capacidade de se comunicar em Yoruba Conclusão

Revisão dos principais pontos do curso Dicas para continuar aprendendo Yoruba após o curso.

Módulo 1: Introdução ao Yoruba

Introdução

Sobre a língua Yoruba Importância do aprendizado de Yoruba Alfabeto Yoruba

Apresentação do alfabeto Yoruba Pronúncia e uso das vogais e consoantes Saudações e Frases Comuns

Cumprimentos básicos em Yoruba Frases comuns para o dia a dia Vocabulário básico Módulo 2: Gramática Yoruba

Substantivos

Gênero e número Formação do plural Pronomes

Pessoais Possessivos Verbos

Conjugação em presente, passado e futuro Uso dos auxiliares Exercícios práticos com os 20 verbos mais usados em Yoruba Adjetivos

Posição e concordância Preposições

Uso e exemplos Módulo 3: Vocabulário Temático

Comida e Bebida

Lista de palavras relacionadas a comida e bebida Frases úteis para usar em restaurantes ou em casa Família e Parentesco

Lista de palavras relacionadas a família e parentesco Frases úteis para falar sobre sua família Trabalho e Profissões

Lista de palavras relacionadas a trabalho e profissões Frases úteis para falar sobre sua profissão Módulo 4: Conversação em Yoruba

Perguntas e Respostas Simples

Prática de perguntas e respostas simples em Yoruba Gostos e Preferências Pessoais

Prática de perguntas e respostas sobre gostos e preferências pessoais em Yoruba Hobbies e Atividades

Prática de perguntas e respostas sobre hobbies e atividades em Yoruba Família e Parentesco

Prática de perguntas e respostas sobre a família em Yoruba Módulo 5: Prática de Fluência

Exercícios de Fala Livre

Escolha de um tópico para falar livremente em Yoruba Prática da fluência e da capacidade de se comunicar em Yoruba Conclusão

Revisão dos principais pontos do curso Dicas para continuar aprendendo Yoruba após o curso. Exercícios práticos com os 20 verbos mais usados em Yoruba:

Lo - Ir Jẹ - Comer Rí - Ver Gbé - Levar Fún - Dar Wà - Estar Fọ́ - Falar Sì - Chegar Kọ̀ - Chamar Lọ́ - Vir Mọ̀ - Saber Gbà - Pegar Fì - Colocar Bá - Permitir Sọ̀ - Dizer Bẹ̀rẹ̀ - Chegar cedo Dá - Emprestar Jẹ́rè - Morar Ràn - Dizer para alguém fazer algo Jù - Pedir

verbos mais usados no Yoruba e conjuga-los no presente, passado e futuro.

ṣe (fazer)

Presente:

Mo ṣe (eu faço) O ṣe (ele/ela faz) Awa ṣe (nós fazemos) Ewo awọn ara wa ṣe (vocês fazem) Won ṣe (eles/elas fazem)

Passado:

Mo ti ṣe (eu fiz) O ti ṣe (ele/ela fez) Awa ti ṣe (nós fizemos) Ewo awọn ara wa ti ṣe (vocês fizeram) Won ti ṣe (eles/elas fizeram)

Futuro:

Mo yoo ṣe (eu farei) O yoo ṣe (ele/ela fará) Awa yoo ṣe (nós faremos) Ewo awọn ara wa yoo ṣe (vocês farão) Won yoo ṣe (eles/elas farão) wa (vir)

Presente:

Mo wa (eu venho) O wa (ele/ela vem) Awa wa (nós vimos) Ewo awọn ara wa wa (vocês vêm) Won wa (eles/elas vêm)

Passado:

Mo ti wa (eu vim) O ti wa (ele/ela veio) Awa ti wa (nós viemos) Ewo awọn ara wa ti wa (vocês vieram) Won ti wa (eles/elas vieram)

Futuro:

Mo yoo wa (eu virei) O yoo wa (ele/ela virá) Awa yoo wa (nós viremos) Ewo awọn ara wa yoo wa (vocês virão) Won yoo wa (eles/elas virão)

ni (ter)

Presente:

Mo ni (eu tenho) O ni (ele/ela tem) Awa ni (nós temos) Ewo awọn ara wa ni (vocês têm) Won ni (eles/elas têm)

Passado:

Mo ti ni (eu tive) O ti ni (ele/ela teve) Awa ti ni (nós tivemos) Ewo awọn ara wa ti ni (vocês tiveram) Won ti ni (eles/elas tiveram)

Futuro:

Mo yoo ni (eu terei) O yoo ni (ele/ela terá) Awa yoo ni (nós teremos) Ewo awọn ara wa yoo ni (vocês terão) Won yoo ni (eles/elas terão)

fi (dar)

Presente: Mo fi (eu dou) O fi (ele/ela dá) Awa fi (nós damos) Ewo awọn ara wa fi (vocês dão) Won fi (eles/elas dão)

Passado:

Mo ti fi (eu dei) O ti fi (ele/ela deu) Awa ti fi (nós demos) Ewo awọn ara wa ti fi (vocês deram) Won ti fi (eles/elas deram)

Futuro:

Mo yoo fi (eu darei) O yoo fi (ele/ela dará) Awa yoo fi

ula Relações internacionais 14/04/2023

Ontologia - Epstemologia - metodologia -

onto= ser logia= estudo / conhecimento

Busca explicar a natureza além fenômeno

Epistemologia Episteme= saber / teoria conjunto de ferramentas teóricas para a compreensão do fenômeno.

metodologia - conjunto de métodos de analise / pesquisa.

TEORIA - meio de explicar uma realidade - simplificada

A teroria depende muito de quem cria a teoria. Mudando a ontologia, muda também a epistemologia e metodologia.

1 o que enxergo como problema? 2 Quais as perguntas que eu me faço sobre o problema ?

1) Sobre o surgimento das RI como Disciplina.

Surge pos 1. guerra

O vinculo de quem cria a teoria, de quem analize criticamente os fatos, pode definir o caminho do estudo. Impactando quem vai produzir a teoria. Definem o que enchegam o problema.

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