Pirata e a ANATEL

Quando analizamos a importancia da comunicação comunitária, a partir das perspectivas afrocentricas, percebemos como foram criadas métodos de silenciamento dos povos, na arte, cultura, e principalmente na educação. Tomando como exemplo o tempo em a imprensa foi alvo da censura durante a ditadura instaurada pelo golpe civil-militar de 1964, que assumiu múltiplas formas: a lei da imprensa de 1967, a censura prévia, em 1970, a autocensura. Apesar desse tortuoso tempo ter se findado, seus métodos repressivos fizeram escola de uma forma tão sólida, que alcansou um estado atemporal, estando ainda hoje entranhado nos modos operandes do estado nacional brasileiro, não somente cultural e socialmente mas a repressão continua, inclusive resguardada por leis que obedecem um ritmo conciso e latente para os grandes empresários que se fantasiarão em organizações governamentais, que na verdade servem para manter privilégios conseguidos debaixo de sangue e torturas.(...) Um grande exemplo disso são as leis que regem os instrumentos de comunicação, que se mantêm inalteradas desde o regime militar. Essas leis são fiscalizadas pela ANATEL, Agência Nacional de Telecomunicações, que age juntamente com a Polícia Federal, e elas têm o poder de nos tirar o direito de se comunicar livremente, pois a concessão para ondas de rádio é apenas cedida a grandes empresas que tem, inevitavelmente como única finalidade, o lucro. Por isso, o conteúdo de seus programas é tão banalizado e as informações veiculadas são apenas as que os convém, negando a pessoas comuns e a movimentos sociais a possibilidade de divulgarem suas idéias.(...) (http://muda.radiolivre.org/)

Para dialogarmos comunicação comunitária, antes de mais nada devemos compreender todos o histórico de criação dessa ferramenta que é a internet, como as disputas pelas POLÍTICAS DE DADOS, tem ditado o ritmo de seu crescimento, e sobre tudo até onde chega esse bem tão necessário na epoca histórica denominada infoera, (...) a era da informação e do conhecimento, está crescentemente se impondo na estrutura social mundial, atingindo os mais recônditos lugares de nosso planeta. A imensa revolução da informática, traduzida pela evolução tecnológica das metodologias de produção na microeletrônica, assim como pela evolução do processamento de dados e do processamento de informações e, finalmente, pela evolução tecnológica das telecomunicações propriamente ditas, está agora se espraiando, propagando-se e disseminando-se para todos os demais setores das atividades socioeconômicas. (ZUFFO, 2003)

Uma alternativa a esse monopólio são as rádios livres e comunitárias, que não têm "rabo preso" com políticos, não dependem do "jabá" para tocar suas músicas e não têm interesses comercias. Elas existem em todo o mundo; no Brasil, ficam em maioria nas periferias, em universidades e espaços culturais. Resistem com uma programação voltada para o interesse da comunidade, abrem espaço para novos artistas e fazem com que a arte continue viva, não sendo subordinada à truculenta indústria fonográfica. Por quebrarem o monopólio das grandes empresas de telecomunicação e não se adequarem ao esquema comercial de transmissão, essas rádios são perseguidas, lacradas e, muitas vezes, seus programadores são presos e violentados. Em Campinas, resiste há mais de 10 anos no ar a Rádio Muda, uma rádio livre, criada por estudantes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), mas que hoje possui programadores dos mais variados tipos - os chamados mudeiros -, que compõem até hoje o coletivo anti-autoritário coordenador da rádio. Esse modo de se organizar/coordenar garante liberdade de opinião, participação e expressão a cada novo e velho integrante, que tem a possibilidade de fazer como bem entender o seu programa, dando a rádio grande diversidade de sons e idéias. Quem já escutou sabe como é o contraste ...

São aproximadamente 200 programadores, que mantêm a rádio no ar 24 horas por dia, trasmitindo vários estilos, tais como hip-hop, MPB, reggae, rock, heavy metal, samba, hard-core e noise ou programas sobre futebol, esperanto e movimentos sociais. Ninguém paga ou recebe para fazer programa; é a vontade de cada um que os leva até lá. Mesmo tendo recebido algumas visitas da ANATEL junto com a Policia Federal, mas eles nao vão nos calar, continuamos nossa luta de "democratização" dos meios de comunicação. Continuem ouvindo a rádio, e entrando em contato pelo e-mail ou pelo telefone "Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão. Esse direito inclui a liberdade de receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, sem interferências e independentemente de fronteiras" (Declaração universal do Direito do Homem, 1948, Art. XIX)

"É livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientifica e de comunicação, independentemente de censura ou licença." (Constituição Brasileira, Art. 5 IX)

"A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veiculo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Contituição." "Parágrafo 1: Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço para a plena liberdade de informação jornalistica em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no Art. 5º IV, V, X, XII e XIV." (Constituição Brasileira - Art. 220)

HISTORIA DA MUDA RÁDIO LIVRE

A história da Rádio Muda parece nebulosa para os novos mudeiros. São muitas as versões e as lendas sobre a rádio. O nome Muda, por exemplo, não se sabe ao certo de onde veio ou de como foi formulado. Cabe a você criar a sua interpretação, pelo que já conhece da rádio. O que se sabe da história é que a rádio nasceu da experiência de alguns estudantes da Física e Engenharia Elétrica da Unicamp, que construíram um transmissor FM e o colocaram no ar no DCE da universidade. Com o tempo, pessoas de outros institutos começaram a participar da Rádio e propuseram a criação de um coletivo para geri-la. Por volta de 1994, a rádio se transferiu para um depósito que o DCE havia conseguido junto à prefeitura do campus. Um depósito que ficava debaixo de toda a água que é distribuída e consumida pelos prédios e torneiras que rodeiam o Ciclo Básico (praça central da Unicamp). O novo estúdio da Muda passou a ser na torre apelidada de "Pau do Zefa" (em alusão ao primeiro reitor da Unicamp, Zeferino Vaz): uma torre que antes funcionava apenas como caixa d'água, mas hoje funciona como sede de uma das maiores referências em comunicação livre do País. Comenta-se que, um ano depois da mudança para o "Pau do Zefa", a Muda teve o transmissor roubado. Foi nestes idos que a Rádio deixou de vez de ser vinculada ao DCE e passou a ser completamente gerida pelo Coletivo (que agora já merece letra maiúscula por ter características que transcendem vontades ou picuinhas pessoais...). Até 1999, a rádio passou por um período em que teve seu alcance restringido ao campus da Unicamp e às residências que o rodeiam. O transmissor era fraquinho comparado ao atual, tinha de 3 a 5 W. No meio de 1999, o coletivo se fortaleceu , e contando com a atitude de "novos" e "velhos" mudeiros, adquiriu o transmissor atual, passando a atingir todo o distrito de Barão Geraldo (onde fica a Unicamp) e outros bairros como o Jardim Santa Genebra, Vila Costa e Silva, Jardim São Marcos, Santa Mônica, e as margens das estradas que cortam a zona norte de Campinas. A partir daí, a Muda só cresceu, na participação da comunidade, na forma de integração e atuação do coletivo, nios eventos que realizava e na sua diversidade. Há de se destacar a inserção da experiência mudeira no movimento nacional e internacional pela comunicação livre, acirrado pela participação de mudeiros em eventos como os Fóruns Sociais Mundiais, Pan-Amazônico, Mídia Tática Brasil e outros acontecimentos. A utilização livre da Internet também abriu possibilidades e realidades para a Muda... É especificamente isso que você pode ver no nosso site... Resultado atual: 122 programas semanais / mais de 250 programadores

Dados de acesso de rádio

Apesar da crescente popularização dos computadores, cresceu em 12% o percentual de domicílios brasileiros com TV nos últimos dez anos. De acordo com último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado na última quarta-feira (16), 97% dos lares têm televisores, frente aos 85% do ano de 2000.

No mesmo período, a presença de aparelhos convencionais de rádio caiu de 87,45% para 81,4% do total. Entretanto, essa queda deve ser analisada com cautela, diz o diretor-geral da Abert, Luis Roberto Antonik.

Com a modernização e a convergência tecnológica, os receptores tradicionais de rádio cedem espaço a novos aparelhos, como celulares, computadores, smartphones e tocadores de MP3 (a exemplo dos Ipods), observa Antonik.

Ao final de 2010, 36% dos 202,9 milhões de aparelhos celulares estavam equipados com aparelhos de rádio, uma soma aproximada de 75 milhões de receptores. O número deve ser maior em 2011, porque, desde 2002, a quantidade de domicílios com celular cresce mais de 15% ao ano.

“Esses dados não constam das estatísticas do IBGE”, observa Antonik. “A pergunta do Instituto não é se o brasileiro ouve rádio, mas se ele tem um aparelho de rádio no domicilio”, afirma. A área econômica da Abert considera que os diversos receptores de rádio no Brasil deram um salto nos últimos anos, chegando a casa dos 300 milhões.

A ferramenta de rádio talvez seja a ferramenta que consegue romper todas as barreiras que o letramento impõe para os povos atraves do ensino que não existe em todas comunidades negras, e quando tem é de um formato cada vez mais sucateado. . Quando percebemos que a grande maioria de nossa população se encontra nno elevado índice de analfabetismo, as informações escritas não conseguem nem de perto sanar as necessidades referente a receptação de informações educacionais. Ao passo que A Afrocentricidade é uma crítica da dominação cultural e económica e um ato de presença psicológica e social diante da hegemonia eurocêntrica. buscamos nesse trabalho aprofundar um campo crucial nessa época de informações. A hegemonia é multi facetada e interdisciplinar, em todos os lugares estão espalhados métodos diversos pensados em garantir e preservar essas tradições ocidentais. Nossa provocação critica em torno do universo tecnológico, percebendo esse como um território que pode facilmente ser comparado com o LATIFÚNDIO, grande propriedade de terra pertencente a uma pessoa, empresa ou família, esses "proprietários" ditam as regras, métodos, afim de garantir seus ganhos financeiros e lucros. o posicionamento que Molefe Kete Assante tem defendido, a importância de nos localizarmos psicologicamente e socialmente como africanos que fomos deslocados . Essa reflexão que gira em torno das tecnologias, dias respeito a como faremos uso desse território. Se lutaremos por uma bandeira de liberdade e soberania digital, diante da guerra históricas que grandes empresas tem fomentado com foco nos lucros desses grandes latifúndios, organizados tal qual os sistemas de plantation, mas que nesse caso o que está em jogo, como sempre esteve em todo o processos imperial e colonial, os dados. O nosso descuido que se dar por diversos fatores, mas, o mais evidente é a falta de conhecimento aprofundado das ferramentas que o povo usa massivamente, como facebook, whatssapp, gmail e todas as ferramentas da google. estão muito bem colocados na corrida por o que ouso a chamar de escravização de dados. Ferramentas construídas na lógicas de sistemas operacionais fechados, afim de não possibilitar o discernimento tecnológico fomentando o emburrecimento constante e estratégico de seus usuários, que tem perfis inteiros montados a partir de suas informações diárias entregue de bandeja para os servidores escondidos em lugares longínquos, informações essas que são na sua maioria vendidas para empresas que pretendem construir perfis de possíveis clientes. Solicitadas pelos governos afim de praticas punitivas de segurança, ou mesmo sequestradas por pessoas mãs intensionadas que com conhecimento tecnico avançados transitam por informações pessoas e empresariais de milhões de pessoas e organizações. vem a tona quando nos propusermos a fazer uma reflexão crítica a cerca das ferramentas de comunicações disponibilizadas e usadas pelos povos africanos e diaspórico sobre tudo na realidade brasileira. Uma vez que estamos condicionados a seguir roboticamente todos os passos dos algorimos construídos sobre fortes tendências racistas, machistas e etc. Esses avanços racistas tem sido minuciosamente estudadas, e no campo da informatica, sempre foi celeiro para diversas desigualdades. Quando nos processo escravocata, pessoas de diversos localidades foram pesquisadas quanto a seus dados, saberes e fazeres, foram nossas infirmações o foco da empreitada mais desumana da historia, a escravidão. Trousseram pessoas eximias agricultoras, os melhores arquitetos, melhores matematicos. não um ató impensado e deosrganizado. na busca da informações e da limpesa etnica diversas ferramentas e extratégias foram usadas. Uma das mais fortes foi a tentativa de incapacitar a comunicação e repasse de informações entre os povos, na tentativa de não só dificultar comunicações que culminasem em revoltas, mas para facilitar a colonização dos saberes, a pidgmização e criolização foram formas de conseguir resistir. ao chegarem aqui a maior tentativa que podemos perceber foi a desterritorialização das pessoas e a desconfiguração comunicacional e de repasse desses conhecimentos, uma vez que perceberam que quem se comunica resiste aos processos coloniais e destruição em massa dos saberes africanos nessa coondição de resistir e mater viva a memoria, saberes, fazeres, religiosidade e etc. Nos viciaram em diversas drogas, potencializand asim nosso desaparecimento somático. açucar nos periodos escravocata, são no perios pos escravocata, alcool, crack e agora na era da informação, nos viciaram em dopamina, o hormonio que nos faz sentir aceito nesse universo alicerçado em bases eurocentruicas. as redes sociais mais usadas hoje, condiciona o psicologico a uma cadeia sem fim, de curtidas, comentarios, nos forcando muitas das vezes a seguir e nos personificar de acordo com os algoritimos das ferramentas maestream.

De fato, uma orientação para a Afrocentricidade começa com as primeiras civilizações do Vale do Nilo, as culturas Núbia e Kemética, e demonstra que um ponto de partida diferente na história, além da Grécia e Roma, trará ao leitor ou estudante uma conclusão diferente sobre o papel dos africanos na história mundial. No Brasil e nos Estados Unidos, milhões de pessoas de herança africana crescem acreditando que a África é uma realidade marginal na civilização humana quando, de fato, África é o continente onde os seres humanos ergueram-se pela primeira vez e onde os seres humanos primeiro nomearam Deus. As implicações para tal reorientação são encontradas na comunicação, linguística, história, sociologia, arte, filosofia, ciência, medicina e matemática.

Na África o indivíduo é inseparável de sua linhagem, que continua a viver através dele e daqual ele é apenas um prolongamento. É por isso que, quando desejamos saudar alguém, o saudamos chamando-o repetidas vezes, não por seu nome próprio, que corresponderia noocidente ao nome de batismo, mas pelo nome do seu clã[...] (Hampâté Bâ,2013, p.20)

Para fazer contrapondo às ferramentas posta para uso, desde as estrutura físicas e lógicas das maquinas que usamos no nosso dia a dia, como computadores e sobre tudo na atualidade smartfone e outros tipo de computadores de mão. os computadores são maquinas, maquinas que precisam de um sistemas de programas que alinhados entre si formam o sistema operacional, sistema responsável por controlar todo o computador. esses sistemas quando criados foram pensados como uma ferramenta que possibilitasse comunicação rápida segura e de forma livre. Empresas que começaram a empreender em criar um programa que possibilitassem navegar na Internet recém criada, para alem dos universos dos códigos, essa guerra que aconteceu por volta dos anos 199

De acordo com o autor Robert Darnton (1990, p.140), define tradição oral como sendo: “(...)testemunho transmitido oralmente de uma geração para a outra. Suas características particulares são o verbalismo e sua maneira de transmissão na qual se difere das fontes escritas”.

Hampâté Bâ (2010,p.167), sobre tradição oral cita em seu texto que para conhecermos realmente esta tradição, segundo ele “[...] só terá validade a menos que se apoie na herança de acontecimentos de toda a espécie, pacientemente transmitido de boca a ouvido, de mestre a discípulo ao longo dos séculos.” Sendo assim o valor da Palavra dita nestas sociedades é de muita importância porque está relacionada com o valor do homem e sua honra, respeitando suas origens e suas tradições, assim Hampâté Bâ (2010, p.168) escreve “[...]o homem está ligado a palavra que profere. Está comprometido por ela. Ele é a palavra, e a palavra encerra um testemunho daquilo que é. A própria coesão da sociedade repousa no valor e no respeito pela palavra”. A tradição oral então envolve um todo para estas sociedades africanas, elas trazem uma bagagem cultural que abrange toda a sua origem, todo o conhecimento. Ela vai muito além, traz consigo o cotidiano desses povos que envolve o presente e o passado em um mesmo espaço de tempo. Hampâté Bâ (2010, p.169) cita: “Ela é ao mesmo tempo religião, conhecimento, ciência natural, iniciação a arte, divertimento e recreação [...]”. A Palavra para estas sociedades orais tem um poder sagrado, está relacionado com todas as coisas do universo. De acordo com a história das comunidades africanas, segundo Hampâté Bâ (2010, p.171) “o homem recebeu do poder criador divino, o dom da mente e da Palavra [...].” Nestas tradições quando ditas em forma de saber, elas são expressadas por meio de uma técnica que nestas comunidades com tradições orais se utilizam. Local, ritmo, momento, todo um preâmbulo para que estes ensinamentos e experiências sejam passados como um encontro com seus ancestrais. A Fala para estas sociedades orais é considerada como um poder divino, mágico, ela é a materialização da força interior, ela expressa ritmo e movimento, estas comunidades comparam –na com o ofício do tecelão que tecem com seus pés no tear os tecidos, com movimentos cadenciados. Assim, Hampâté Bâ (2010, p.173) explica ao falar do oficio de contar as histórias de seu povo, ele define também que “a tradição está relacionada com a Palavra”, sendo assim segundo Hampâté Bâ (2010, p.173), “[...] a tradição, pois confere a Kuma, a Palavra, não só um poder criador, mas também a dupla função de conservar e destruir. Por essa razão a fala por excelência, é o grande agente ativo da magia africana” Hampâté Bâ cita de forma a esclarecer a fala destas comunidades tradicionalistas: A tradição africana, a fala, que tira do sagrado o seu poder criador e operativo, encontra-se em relação direta com a conservação ou ruptura da harmonia no homem e no mundo que o cerca. Por esse motivo a maior parte das sociedades, considera a mentira uma verdadeira 8 lepra moral. Na África tradicional, aquele que falta com a palavra mata sua pessoa civil, religiosa e oculta. Ele si separa de si mesmo e da sociedade, seria preferível que morresse, tanto para si próprio, como para os seus. (Hampâté Bâ 2010, p.174) Dentro destas comunidades orais, existem hierarquias para passar esses conhecimentos, existem pessoas específicas que são preparadas desde cedo para este oficio. Tradicionalistas ou Domas são os responsáveis por passar ou iniciar outros Conhecedores do oficio da Palavra. Estes Tradicionalistas podem ser encontrados em várias regiões da savana africana, onde passaram as duas narrativas literárias que foram sugeridas neste trabalho acadêmico. Hampâté Bâ (2010, p.175), em seu texto, cita sobre estas especificações: “Assim existem os Domas que conhecem a ciência dos ferreiros, dos pastores, dos tecelões, assim como das grandes escolas de iniciação da savana- por exemplo, no Mali, o komo, o Kore, o Nama, o Do, o Diarrawara, a Nya, o Nyaworole, etc.” Os Domas tradicionalistas possuem características segundo Hampâté Bâ (2010), diferenciadas, pois conseguem guardar muitos fatos importantes para narrar as histórias de seu povo em sua memória, arquivam ao longo do tempo o que foi transmitido pela tradição de seus ancestrais e ainda absorvem fatos que estão acontecendo, ou seja, o presente também é história para guardar.

  1. A ORALIDADE E ESCRITA NAS SOCIEDADES AFRICANAS Ao realizar este trabalho acadêmico sobre oralidade, observa-se que este tema que parece ser simplório mas é de fato de grande complexidade Ao observar a evolução humana antes da escrita, o homem transmitia suas mensagens, suas tradições e sua cultura através da fala. Este mecanismo humano de comunicação possibilitou que fossem contadas de um para outro toda a história e experiências de um povo. A oralidade desperta a memória dos humanos, onde se resgata os saberes, as conquistas dos povos passados para aqueles que estão começando, as novas gerações. As sociedades africanas da região do Mali que estão sendo abordadas neste trabalho utilizam-se desta oralidade como parte importante e como documento histórico para resgatar e preservar sua história. O autor Joseph Ki-Zerbo faz uma referência sobre o papel da oralidade para os povos africanos quanto a sua importância: [...] a tradição oral aparece como repositório e vetor do capital de criações socioculturais acumulado pelos povos considerados não possuidores de escrita. Verdadeiro museu vivo, a palavra histórica é um fio de Ariadne bastante frágil para o percurso dos obscuros corredores do labirinto do tempo. Os detentores das palavras são os anciãos. (KI-ZERBO,1917, p.8) Figura 1 -Mapa da região do Mali e da Guiné. 11 Percebe-se então que os discursos orais são fontes para estudar as práticas locais, as relações sociais, culturais e econômicas de cada povo. Para as sociedades africanas, o elo que se forma entre a palavra e o homem é muito forte. No entanto, no meio acadêmico a fonte histórica oral é muito discutida se seria uma fonte confiável e legítima como forma de documentos para pesquisas. Joseph Ki-Zerbo (1979, p.69) afirma que “[...] a tradição oral não é uma fonte á qual nos resignamos na falta de qualquer outra. É uma fonte integral e á parte, cuja metodologia está suficientemente bem estruturada para conferir á história do continente africano uma forte originalidade.” O autor defende a legitimidade da oralidade ao se tratar sim como um documento histórico. O meio cientifico, de certa forma, não considerava a história oral como um meio confiável de consulta. Mas as sociedades africanas, mesmo com a introdução da escrita que veio sob a influência do islamismo atingindo segundo Hampâté Bâ (2010 p.204), grande parte dos países da savana ou do antigo Bafur, não deixaram a oralidade de lado, e sim conseguiram agregar os dois conhecimentos. Hampâté Bâ (2010, p.204) reforça isto ao dizer: “De fato por onde se espalhou, o Islã não adaptou a tradição africana quando- como normalmente ocorria- esta não violava seus princípios fundamentais. A simbiose assim originada foi tão grande, que por vezes torna-se difícil distinguir o que pertence a uma ou a outra.” Desse modo, pode-se observar que o discurso oral nestas sociedades não deve ser desconsiderado e muitos pesquisadores concordaram e defenderam esta ideia. Boubacar Barry (2000, p.5) foi um autor que defendeu esta ideia. Ele propôs um meio para construir cientificamente, segundo ele, um discurso para avaliar esta pluralidade de informações. Para Barry (2000, p.12), a utilização da história oral como pesquisa histórica está relacionado com as transformações dos povos, segundo o autor “[...] a história de vida apareceu como instrumento privilegiado para avaliar os momentos, de mudanças, os momentos de transformação.” O autor ressalta que o meio cientifico tem uma necessidade de manusear os documentos, as provas, algo palpável, este argumenta que a comunidade cientifica, tem que discernir sobre o que se escreve e sobre o que se pesquisa. O meio cientifico também contesta sobre as informações que se perdem, se modificam por vários motivos na narrativa oral, mas a escrita também pode sofrer influencias de quem a escreve. Barry (2000 p.09), frisa sobre esta subjetividade que “Em primeiro lugar, até as mais subjetivas das fontes, tais como uma história da vida individual, podem sofrer uma crítica, por cruzamento de informações obtidas a partir de fontes diferentes.” Depois de um grande período e discussões no meio cientifico sobre a utilização da tradição oral como uma fonte legitima de pesquisas, aparecem autores como Joseph Ki-Zerbo(1991)que começam a defender neste meio acadêmico a importância de considerar a tradição oral africana como um documento, pois segundo KiZerbo(1991) o que “deve-se prestar a atenção em determinar que método adotar para diagnosticar as tradições e selecionar com toda segurança aquilo que é digno de servir como fonte para a história.” Isto ao se tratar das tradições orais. Definindo um método seguro de coleta desses acontecimentos históricos orais, os historiadores começam a ver a oralidade africana como uma fonte histórica de pesquisa e uma narrativa coletiva importante, sendo legitima para representar as sociedades africanas daquela região do Mali. Depois desse período de desencontro entre os historiadores, aconteceu um novo florescer das tradições orais, com um novo corpo que irão reacender esta necessidade da tradição oral, Barry (2000),afirma assim em seu texto “[...] a redescoberta das tradições orais virá principalmente da segunda geração de historiadores [...]”.O marco dessa nova fase vai ser a narrativa que foi proposta para ser apreciada neste trabalho,Sundjata ou epopeia mandinga, do autor Djibril Tamsir Niane em 1960, Barry(2000). Niane irá abordar a importância da oralidade e da memória coletiva para contar a história da África. Niane é o primeiro historiador profissional a reabilitar com brilho o griô como depositário tradicional do passado. Para ele, o griô detém a Cadeira da história mesmo quando preso ao segredo que explica sua maestria na arte da perífrase. (BARRY 2000, p.24) 12 A partir daí as tradições orais voltam a participar e a ter peso como uma fonte histórica de pesquisa tanto quanto a escrita. Surgindo então um outro método para se escrever a história da sociedade africana, onde a escrita e a oralidade passam a trabalhar juntas. Barry (2000), afirma isso ao falar “Em toda a parte, na Senêgambia em outros lugares da África, nasce a metodologia de coleta, transcrição e interpretação das tradições orais” Vários historiadores se empenharam para que isso difundisse e se firmasse na África, entre eles estão Djibril Tamsir Niani, autor de Sundjata, epopéia mandinga, Babacar Barry, que serviram de inspiração e fonte de pesquisa para este trabalho. Este avanço para recolher estes dados são de grande importância, pois a partir deles seriam realizados estudos que iriam completar informações sobre a história africana desconhecida mundialmente. Do ponto de vista metodológico, as tradições orais são consideradas acima de tudo, como documento de outra natureza, que são recolhidos para completar os documentos escritos de origem europeia, principalmente. Os Historiadores utilizam com esse fim os arquivos, que foram objetos de pesquisa sistemática nos diferentes depósitos da África e Europa, e que revelaram a existência de importante documentação. (BARRY,2000, p.26) Com o surgimento desse sentimento nacionalista, surge também um discurso político de ideologias, que defendem heranças coloniais e conquistas de novas fronteiras que irão se formar em novos Estados. Barry (2000, p.27), pode afirmar sobre isso: “O Estado-nação encerra a história numa camisa de força dupla de unanimidade e silêncio que detém e disfarça diferenças e contradições na competição pelo acesso ao poder e riquezas do Estado-nação.” A oralidade então segue um outro caminho dentro da sociedade africana, voltado para um discurso político de poder, onde toma-se partido de certos grupos utilizando heróis e mitos da memória coletiva do povo africano. Focaliza-se tudo o que pode consolidar a coesão do movimento e o respeito ela hierarquia mouríde ou tdjane, ligando a ação dos sucessores á dos pais fundadores –modelo perfeitocuja a vida e façanhas parecem em muitos aspectos as dos heróis lendários Sundjata ou nydiadyan Ndiaye. (BARRY 2000, pag.28) A oralidade então entra novamente no gosto dos africanos da modernidade, pelos meios de comunicação, pelas pessoas, através também da literatura abarcando toda a população. Barry (2000, p.28) coloca que “Os historiadores profissionais tentam na linguagem colorida das tradições orais colocar ao alcance da maioria da população a nova história escrita a partir da combinação de documentos e narrativas orais[...]” Mesmo com estas conquistas sobre o conhecimento e reconhecimento da oralidade como uma fonte de pesquisa o autor em seu texto ainda encontra problemas pois ainda as fontes orais são válidas para completar os documentos escritos. Critica ainda que tanto a oralidade quanto a escrita deveriam ter um mesmo tratamento crítico. O outro problema que aponta é a ausência de memória sobre o tráfego negreiro na história africana principalmente na Senegâmbia. Barry (2000, p.30), conta que, “Com efeito, o silencio mais pesado recai sobre a participação dos africanos no tráfego negreiro, que durou séculos e teve um impacto duradouro sobre as sociedades seneganbianas”. Barry (2000, p.30), fala que estes dados, “Foi reconstituído essencialmente a partir dos arquivos e das relações dos viajantes europeus”. Ainda atenta que este fato pode ser devido ao sofrimento da escravidão nas Américas e a África ser o momento da lembrança e sonho da liberdade: “O fato das vítimas terem sido deportadas para o outro lado do Atlântico, talvez explique que a memória de seus sofrimentos tenha sido conservada antes nas Américas, com o objetivo bastante preciso de lutar contra a escravatura.” (BARRY, 2000, p.30) Existe ainda o problema de buscar as tradições orais em momentos de crises e conflitos, e estas acontecem na comunidade e no cotidiano do povo, onde os historiadores ainda não chegam ou ignoram, buscando um viés mais cômodo, longe da zona de debate. Em todos os níveis se apela para as tradições orais, com o fim de exprimir reivindicações num contexto nacional de crise. É o momento em que o historiadores se calam ou se voltam 13 para a história presente, com vista a participar do crescente debate político nos jornais particulares e numerosos partidos de oposição que foram reconhecidos pelo poder. (BARRY, 2000, p.32). O autor Barry (2000, p.33) expressa uma grande preocupação em que o recolhimento e uma abordagem mais plural em outras disciplinas que vá além da história para melhorar a aceitação das tradições orais, para ele as tradições orais continuam sendo produzidas através de seus discursos do cotidiano presente. Há uma crítica em sua obra Senegâmbia: o desafio da Historia Regional quanto “A sociedade com diversas velocidades onde três categorias de elite compartilham um campo histórico “. Esta preocupação está relacionada com o envolvimento da política no discurso oral político, porque ele sofre uma influência da elite que está no poder, causando assim um atrito de opiniões autor fala sobre este aspecto quando cita: “Essa crise se acentua em particular pelo fato que a elite política que governa vive fora de sua história e privilegia o modelo colonial” (BARRY, 2000, p.34). Estas elites de historiadores são formados por escola francesas, escolas pró-árabes e elites tradicionalistas severas que vivem em conflito constante. Barry cita isso como um grande problema: “A junção desses três saberes ainda não se deu, é isto que em parte explica a crise do estado pós colonial que querem por uma identidade histórica comum num contexto de sociedades plurais, que vivem sua história a longo prazo” (BARRY, 2000, p.34). Finalizando então com a preocupação do autor em tornar a tradição oral como uma fonte legítima e histórica de pesquisa que traga para todos a história das sociedades africanas da regiões do Mali e da Guiné “[...]trazendo todo seu discurso em toda a sua dimensão espacial, social e cronológica” (BARRY 2000, p.34).